27 de dez. de 2011

Um lombo diferente




           Na tarde que antecedia as comemorações do Revellion, o nego Claudinho chegou na casa da sogra todo animado com uma garrafa de uisque importado (comprou de um colega que viajou ao Paraguai), um livro de receitas e um punhado de temperos e especiarias direto do Mercado Público. O cara estava disposto a surpreender a todos na ceia do Ano Novo. Durante a vida toda, seu talento de "grand chef" limitava-se a preparar miojos e ovos fritos. Apenas isso. Agora a situação se modificara, pois com o novo livro e muita boa vontade tudo seria diferente. 
        Sem alertar muito e sem detalhar o que faria, pediu permissão para utilizar a cozinha e não ser importunado durante o preparo do prato. Como não havia providenciado os insumos, abriu a geladeira e foi logo pegando a primeira peça de carne que avistou - um belo lombo suíno. Assim começava a ser definido, o grande prato da noite: Lombo escocês com ervas finas. O nome e a receita constava na página 73, do livro de receitas internacionais, recentemente comprado.
                      As festas na casa do seu Orlandinho, o sogro, instrutor de defesa pessoal da Academia de Polícia, tinham uma característica cooperativada. Os convivas traziam um prato e o anfitrião oferecia as bebidas. O tradicional lombo de porco era preparado pela Dona Neusinha, sua mulher e sogra do Claudinho, pois seu tempero era famoso entre os amigos e familiares.  Naquele ano, sensível aos apelos do genro, sem contar ao marido, abriu mão da preparação do prato. "Tudo contigo, Claudinho. Não vá me desapontar, hein??" - anunciou a simpática senhora. "Prometo blindar a cozinha e impedir que alguém chegue perto" - finalizou.
            Livro aberto, forma untada, farofa pronta, carne sobre a bancada, temperos socados, um primeiro banho de uisque no bicho (a receita original previa gotas de conhaque, mas como o moço havia aberto a garrafa para experimentar o scott), cobertura na cabeça, avental e mãos à obra. Era meio copo de uisque no lombo suino, um copo com gelo no lombo do Claudinho e assim foi até o forno pré-aquecido ser utilizado para o devido assado.
             Após quase duas horas de cozimento e de muito cuidado por parte do zeloso Chef que, abria a cada 15 minutos o forno e banhava um pouco mais o lombinho com o molho especial e o uisque, foi concluído o prato. Bastava talvez, algum pequeno detalhe. O grande final,como diriam os entendidos do assunto. Logicamente, que o moço ficou bebericando o destilado sistematicamente. 
           Ao retirar do forno o lombo, muito bem temperado, porém ligeiramente endurecido(!), o Claudinho imaginou impôs um último toque pessoal. Olhou para a garrafa do Grand's e avistou um último copo da bebida. Sim, era Grand's numa garrafa de Grant's. Cobriu a carne com a bebida e tascou fogo buscando FLAMBAR o prato, conforme havia assistido num programa de televisão. A sugestão não constava na receita, mas o genro queria somar pontos com o sogrão. E o resultado?? Carne dura, tostada e queimada, uma cozinha enfumaçada e imunda, uma garrafa vazia, o livro com as páginas manchadas e o Claudinho falando um dialeto que até hoje ninguém entende. Para evitar a maior confusão, Dona Neusinha buscou socorro com a Tianinha e a Dona Morena que juntas prepararam às pressas outro tipo de carne suina para agradar o marido da amiga e salvar a pele do quase cozinheiro Claudinho. Enquanto as amigas preparavam o quitute, mãe e filha - Neusinha e Tinica, davam um banho de mangueira nos fundos da casa do seu Orlandinho. O agitado e bom garfo, policial campeão de luta livre. 

Site com balanço brasileiro


E viva o samba no mundo acadêmico!

Ultrapassando barreiras invisíveis e, em alguns casos maquiadas pelo desconhecimento ou conceitos equivocados,  a professora universitária adjunta na UFRGS, Luciana Prass, Doutora em Etnomusicologia (2009), Mestre em Educação Musical (1998) e graduada em Violão Clássico (1993) elevou os bastidores do Carnaval do RS (especificamente a bateria dos Bambas da Orgia) a níveis nacionais de reconhecimento.
Em 2003, com sua reconhecida experiência no mundo das artes, atuando principalmente nas áreas de: etnomusicologia, tradições performáticas afro-brasileiras, comunidades quilombolas, música popular e educação musical, a ousada e bilíngüe docente arregaçou as mangas, afinou seu cavaquinho e “invadiu”  a quadra da Escola...
Quer saber o final da história, acesse  www.levadadosamuka.com.br , de propriedade do sambista, publicitário, agitador cultural, cavaquinista e artista, Samuka Guedes. Responsável ainda pela criação e concepção da imagem visual do Armazém do seu Brasil. Em 2012, muito sucesso, ousadia, criatividade e agenda cheia na STAS Stúdio.
Abração,
Edinho Silva

26 de dez. de 2011

Alta gastronomia


Em meio a muitas promoções realizadas na Agremiação de Carnaval da Vila Pureza, a  Comunidade onde mora o passista Miguelzinho estavam previstas muitas ações de arrecadação de recursos para custear o Carnaval. Pois, o cara  resolveu arrecadar algum para custear os calçados da sua ala. Decidiu rifar uma cabeça de porco assado durante a tarde de pagode e roda de samba da Escola. Há alguns dias negociou com seu José, o açougueiro do bairro a doação da carne suína. Ajeitou também o processo de assado e as guarnições com a Dona Matilde da padaria. Enfim, “apertou”  a todos e garantiu numa bela bandeja o assado a ser sorteado.
Na banquinha da Ala, expos o prêmio e passou a comercializar os talões da “Ação entre amigos”. Inicialmente, seus parceiros de Carnaval sugeriram que, produzisse  apenas 100 bilhetes, pois assim certamente as chances de algum sortudo ganhar seria maior. O Miguelzinho, ganancioso e espertalhão, não ouviu ninguém  e providenciou 1.000 talões. Assim arrecadaria mais e aumentaria as possibilidades de não entregar o prêmio.
Em meio ao samba que rolava pesado  entrou na quadra  o  Cidão, chefe das bocas da Comunidade, cercado de seguranças e mulatas. O moço era um sujeito de grande porte, cara de poucos amigos, risos escassos, mas ao som de um pandeiro ficava de alto astral. Também curtia uma apostinha o moço.  Eram 15h quando avistou a barraca do Miguel e fitou a cabeça do porco. Ofereceu R$100,00 reais pelo produto (afinal, dinheiro não era problema para ELE). O sambista recusou, pois havia comercializado outros canhotos com outras pessoas. Enfim, o Cidão comprou 100 números e foi curtir o samba. Trinta minutos depois reuniu os amigos e foi embora. Lá pelas 17h, o Beto Tamborim aproximou-se do Miguelzinho e perguntou como estavam as vendas. Até aquele momento, tinham sido comercializados 238 talões, aproximadamente (incluindo os do Cidão). Assim, ambos concluíram que as possibilidades de entrega do prêmio seriam remotas. Era tudo que o Beto queria ouvir. Rapidamente propôs ao Miguelzinho tirar umas “lasquinhas” da cabeça do bicho. Uns aperitivos com cerveja gelada e um bom samba sempre caem bem, né mesmo??
A Tininha Poderosa, madrinha da bateria chegou na roda de samba perto das 18h 30min, por conta do trabalho. Arrecadava apostas de jogos do bicho e não conseguia chegar mais cedo. Como era próxima da turma do Miguelzinho (afinal quem conviveu em Escola de Samba sabe que o sentimento que impera é de família) chegou até a banca da Ala do cara. Em meio ao bate papo, algum gaiato perguntou qual tinha sido o resultado da Loteria Federal. Acreditem?? O primeiro e o terceiro prêmio eram exatamente alguns dos vendido ao Cidão. Portanto, o prêmio havia sido sorteado. Havia um vencedor da rifa. Um possível problema seria o cara vir buscar a carne suína, afinal restava o nariz e uma carcaça pelada. Estava tão boa, que o Beto, o Miguelzinho e os amigos pelaram a cabeça. Para desespero de todos presentes, poucos  minutos depois adentrou na Escola o sorridente e feliz Cidão com seus bilhetes na mão. Algum amigo próximo deu um grito: “Larga, Miguelzinho!!! O homi veio buscar seu porco”. Correria geral e a banca da Ala do Gingado, como era conhecida ficou vazia. O que restou foi uma bandeja, com alguma farofa, um punhado de fios de ovos e uma ossada suína. Nem a orelha sobrou. O Cidão urrava de brabo. Seus seguidores e “apoiadores” sacaram suas armas e o medo prevaleceu. Somente uma intermediação da Tininha e do seu Guedes, o patrono da Escola foi capaz trazer a tranquilidade ao lugar. O Carlito Trovão disse que depois daquele dia foi proibido qualquer jogo de azar na quadra de samba. 

Soro bandido


Dezembro é mês de festas, reencontros, presentes, concertos musicais, afagos, confraternizações, belos pratos, espumantes e sorrisos nos  rostos.  Pelo menos deveria ser assim. No último dia 11/12/2011, depois de curtir com a família uma festa  bem legal numa área rural próxima à Porto Alegre preparava-me para um repouso e depois uma  visita a algum shopping da Cidade levar meus afilhados e as respectivas cartinhas ao bom Velhinho. No domingo, dia 12/12, também estava previsto  um programa de alto nível – Concerto de Natal  no Parcão com a Orquestra Sinfônica da PUC e show especial do Paulinho da Viola. Não consegui realizar nada de que havia planejado. Um cálculo renal que obstruiu o uretér  e provocou uma infecção urinária “das  brabas”. Cheio de febre alta, corri para um atendimento hospitalar no Mãe de Deus e após 38 horas de espera numa poltrona na sala de medicação, consegui  um leito. Realizados alguns procedimentos e ingerido uma severa dosagem de antibióticos a situação foi normalizando. Um fato novo e inesperado do processo foi uma “barbeiragem” do serviço de enfermagem do Hospital. Na condição de diabético que sou , cheguei com as taxas acima do aceitável. Inexplicavelmente, após um dos procedimentos me foi aplicado medicamentos com soro glicosado. Ou seja, numa das medições os números atingiram a marca de 450 de glicose. Um absurdo. Se o cálculo e a infecção não me derrubassem a galera do soro não perderia chance. Felizmente, tudo foi controlado. Mas confesso a vocês que preferia  ter comido uma TORTA DE MORANGO com chocolate acompanhada de uma coca-cola bem gelada e bem doce.
O coração fica agitado, mas seguramente com mais prazer.   
To de volta, hein??

Abraços a todos.

Edinho Silva

26 de nov. de 2011

Um assédio com estilo



             Nosso amigo Betão e seus 104 quilos, 1,98 de altura, braços de estivador e toda sua paciência de profissional de segurança pessoal rumou para uma conhecida loja de departamentos para comprar um terno novo para o casamento de seu irmão.
             Em meio a “araras” e cabides, Betão movimentava os variados modelos de camisas que combinassem com sua gravata e o restante da roupa escolhida. A indecisão era grande e enquanto não se resolvia, aproximou-se um senhor, cliente também, bem vestido e com boa fala mostrando-se  muito solícito e sorridente.  O Betão, fingindo não ser com ELE os sorrisos amarelados que vinham na sua direção, mudava de departamento, a todo instante. Aproximava-se das calças, lá vinha o titio a dar palpites. Rumava até os ternos, lá vinha o sorridente senhor.
                Já passava um bom tempo quando o Betão encontrou o modelo que lhe agradou. Entretanto, o preço era alto e distante das reservas do nosso amigo Betão. O simpático senhor não resistiu e aproximou-se falando, quase a seu ouvido: “Moreninho, escolhe a camisa que quiseres com a condição de usar o outro presente (cueca de seda, que trazia consigo) que reservei  para ti. E a prova será na minha casa. Vamos???” O Betão sem pensar muito sobre o assunto deu um empurrão no homem, arremessando-o sobre outras “araras” e composições de cabides próximos. Voaram roupas, galanteador ao chão. Maior fiasco.
             Furioso,  Betão saiu caminhando na direção da saída da loja e próximo à porta de acesso um atendente da loja solicitou sua opinião sobre os serviços  oferecidos. Na hora sem medir as palavras, Betão afirmou: “Falta de respeito total. Na próxima vez, que receber cantadas masculinas baratas vou “baixar o braço” geral. Vai sobrar até para o gerente, já pode avisar” – bradou o moço.
O Carlito Trovão disse que o amigo não é de brincadeira.

Calça nova

              




           A corrida às compras de Natal já iniciou e neste ritmo o Miranda, amigo do Zé Prettin,  percorria um  badalado shopping de Porto Alegre  na companhia  da sua noiva – a Isolda, a vistosa mulata, que mantinha a forma nos  requebros como  passista e oficineira de ritmos da Escola de samba da Zona Leste da cidade. O casal desfilava feliz quando cruzou seu caminho uma  bela mulher, toda sensual  e com uma calça justíssima. O Miranda conteve-se e conseguiu disfarçar  a mira de seus olhos.
Um pouco mais adiante, uma outra “musa” desfilou diante dos dois e dessa vez com uma calça mais justa ainda. Nesta ocasião o  Miranda  não conteve-se, virando descaradamente o rosto e fulminando a mulher. A Isolda enfurecida percebeu beliscou o braço do cara: “Pô, nego, qual é a tua??  Não me respeita??”. O cara de pau, prontamente, respondeu em tom ofendido e cheio de razão: “Pô, Isolda. Depois não reclama do Papai Noel. Estava prestando atenção no modelo da calça que iria te dar de Natal”. Logicamente que, a noiva não engoliu muito a tal justificativa. O Zé Prettin, comenta que o Mirandão já percorreu Porto Alegre inteira na busca da tal calça com detalhes metálicos nos bolsos para presentear Isolda.
Maldita hora que o pescoço do cara virou, né mesmo??

Agilidade na luta

O negão Clodoaldo tem três paixões na vida: o samba de Paulinho da Viola, namorada nova e lutas de boxe. Adorava ver o Mike Tyson nos ringues e a batucada do Paulinho no som do carro. E as novas namoradas?? Putz, ficava completamente balançado com as moças.
Certo dia, cheio de amor para dar, o negão Clodô – como seu público feminino o tratava – convidou a Bebete, sua vizinha bonitona do 404 para tomar um chopinho e dar uma esticadinha na noite. O casal trocava olhares há muito tempo, no elevador, nas reuniões de condomínio, no playground e em todos os cantinhos do prédio. Como era uma atração secreta e proibida deveria ser longe de casa e com a maior brevidade possível. Depois de algum tempo e de algumas estratégias, chegou a grande noite. Coincidentemente, na data em que um lutador de boxe desafiante enfrentaria a máquina de dar socos, chamado Mike.
O Clodô, cheio de segredos, sugeriu uns chopps, carícias, petiscos e direto para um local mais reservado, pois não queria perder a luta e a oportunidade de “amar” a vizinha. A moça, fogosa e faminta, abriu mão dos petiscos e pedindo uma pizza de 4 sabores (portuguesa, bacon, Califórnia e mafiosa) com uma generosa porção de batatas fritas cobertas de queijo parmesão. O rapaz precavido pegou leve, porém a Bebete mandou bala. Comeu muito, misturando TUDO que baixava na mesa. Faltando 60 minutos para o início da luta, sem alertá-la sobre o evento, o negão convidou a moça para rumar para o aconchego de um motel. No caminho, a bonitona queixou-se de dores na barriga, o Clodô não deu muita importância e pisou firme no acelerador do carro. Ao som de “Coração leviano, na voz do Paulinho da viola” o cara chegou na recepção do motel pedindo às pressas as chaves de um apartamento para que a companheira pudesse adiantar “os trabalhos” no vaso sanitário enquanto era preenchida a ficha cadastral.  No mesmo instante que a moça invadia o banheiro, o moço posicionava-se diante do televisor para assistir a luta. O mal cheiro que vinha do banheiro tomava conta do ambiente e era insuportável. O Clodô continuava fissurado na luta, afinal de contas, era o Mike Tyson.
Há poucos instantes de começar a luta, a Bebete chamou o Clodô. O papel higiênico chegara ao fim e a moça estava necessitada. Contrariado, porém solícito, o moço foi ao encontro da “querida”. O aroma que vinha do ambiente era insuportável, mas a situação era de utilidade pública mesmo. Ao retornar para a poltrona e continuar conferindo a luta, percebeu que a mesma já havia acabado. Para  quem não lembra, com o Tyson não tinha brincadeira. Era nocaute no primeiro round. Sem muita conversa.
Indignado e “desapontado”, pois o aroma doce de queijos e todos os insumos da pizza que haviam fermentado no aparelho digestivo da moça acrescidos da frustração de não ter assistido a luta simplesmente inibiu sua “euforia sexual”. A Bebete perguntava: “Vem, meu preto. Te aproxima da tua amada!!”. O Clodô furioso, retruca e esbraveja: ”Eu quero é ir embora deste lugar. Meus embalos foram comprometidos”. E assim, o amigo do Carlito Trovão desistiu completamente da vizinha do 404. Pra sempre!!!

7 de nov. de 2011

Comércio íntimo


          A mulata Margarida, professora da rede pública de ensino, resolveu aumentar sua renda revendendo moda íntima de alto padrão entre suas amigas. O negócio ia bem, mas precisava de um incremento maior e neste sentido seu companheiro, o  advogado  Inácio Dantas, funcionário do Tribunal de Contas foi convocado. No intervalo do almoço, iria mostrar às colegas de trabalho os caros produtos que sua mulher, a Margarida comercializava.  De segunda a sexta-feira, o moço era seriedade total, e nos finais de semana o moço era conhecido como Nanaio Tamborim, o percursionista do grupo de samba “Benditos do ritmo“.
         Pois, numa segunda-feira, pós-festa familiar, daquelas fortes, um pouco atrasado no horário o Nanaio apanhou a sacola das lingeries finas, sua pasta executiva e os sacos de lixos para depositar na lixeira do condomínio próxima à garagem. Perto das 12hs, reuniu as colegas e todos foram juntos ao estacionamento para conferir as calcinhas e soutiens importados que estavam guardados no porta-malas do carro. Deveriam estar, pensava ELE. Não estavam, pois haviam sido levadas pelo pessoal da coleta de lixo.
       Até  hoje, não se sabe se foi pressa, desatenção ou ressaca, mas o “percussionista” acabou jogando a sacola de grife no espaço reservado ao lixo do prédio e guardando no porta malas as sacolas de lixo. O Nanaio inverteu as encomendas e causou um rebuliço, seguido de um grande prejuízo. Levou uns 4 meses para reembolsar o fornecedor de calcinhas da Margarida e a moça abandonou as vendas domiciliares completamente. Nunca mais vendeu nada, garante tia Cenira. 

Um super herói da minha vida

            
          Dona Morena nos conta uma historinha vivenciada pela Karina Remelexo, a passista da escola de samba da Comunidade da Zona Sul de Porto Alegre. Num sábado de um verão escaldante a morena anunciou a seu companheiro, o Zézão, que iria participar de um chá de fraldas na casa de uma amiga no final da tarde. O evento contaria com a participação exclusiva de mulheres, nenhum homem poderia estar presente.
             Por manter uma relação de vanguarda, o casal Karina e Zézão, lidava bem com estas coisas. Ela iria para o chá de fraldas e ELE iria jogar futebol com os amigos e depois perto das 22h, estariam juntos para jantar e participar de uma roda de samba “bem pegada”, como costumavam dizer.
            O chá de fraldas na realidade, tratava-se de uma despedida de solteira, com espumantes, luzes coloridas, amigas desinibidas e muita euforia no ar. A preta Karina, chegou cedo no evento e posicionou-se bem próxima ao palco e era uma das mais entusiasmadas da festa que iniciaria às 18h. Exatamente, depois de 45 minutos de festa, ingressou no ambiente 3 homens musculosos, dançantes e fantasiados. Um bombeiro, índio e um super herói mascarado. Aos poucos, para delírio das amigas e convidadas da festa os artistas iam tirando suas roupas e exibindo seus corpos esculturais cobertos de óleos especiais. A Karina era só empolgação, esfregava as mãos nos corpos suados e já havia jogado para bem longe a culpa da “mentirinha ao marido”.
            O índio já havia jogado seu cocar longe, o bombeiro estava só de sunga e o super herói não tirava a máscara de jeito nenhum. A  Karina um pouco desconfiada, com aquele mistério  e inibição, aproximou-se do moço e olhando bem de pertinho, foi percebendo algo familiar no striper. O mais assediado da festa tinha alguma coisa que lembrava o Zézão, seu marido.  Depois de 90 minutos de pura sedução os moços foram retirando-se da sala mantendo o anonimato.
           Ao chegar em casa Karina encontrou o marido  tomando banho e logo perguntou ao Zézão como havia sido o jogo. Recebeu como resposta que a partida disputada foi bastante difícil, cheia de choques, gols e muitas emoções. Desconfiada, ELA rumou à área de serviço e vasculhou a bolsa esportiva e lá encontrou o par de tênis, o uniforme do futebol e uma estranha vestimenta de personagem infantil. Era uma fantasia de super herói (a mesma vista na despedida de solteira). Algum tempo depois, no intervalo da roda de samba, angustiada, Karina pergunta: “Zê, tu fazes isso há muito tempo? Todos os finais de semana, por exemplo??”.      O cara respirou fundo e respondeu imediatamente: “E você, minha linda, costuma frequentar locais animados por estes profissionais?”. Silêncio no ar. Depois de um beijo apaixonado o casal decidiu nunca mais falar no assunto e andar juntos por todos os cantos possíveis. Chá de fraldas? Jamais. E futebol? Só pela tv.                    Embora pessoas modernas não se pode correr riscos. 

6 de nov. de 2011

Batucando com os filhos

              
             
                    Registro  o novo trabalho do cantor Martinho da Vila  "Lambendo as Crias", recém-lançado em CD e DVD, quando o sambista reúne seus filhos para registrar composições inéditas e algumas já consagradas pelo público brasileiro. Dos oito filhos do cantor, cinco são músicos (Mart'nália, Juju Ferreira, Analimar Ventapane, Maíra Freitas e Tunico Ferreira). A concepção e produção do trabalho foi o ponto alto, pois as gravações aconteciam quando as agendas dos filhos estavam livres. E assim foi surgindo, uma maravilhosa “colcha de retalhos” com cheiro de família. O próximo e mais desafiador passo é reunir a turma e colocar o show na estrada – comenta o sambista de Vila Isabel.

 Estas emoções familiares foram vivenciadas  na festa de comemoração de um ano de existência da Batucada do Armazém, no dia 01/11/2011. O  cavaquinista do nosso movimento, o compositor e sambista Roberto Nascimento levou para a roda de samba seu filho Vitor Nascimento – o Vitinho, diretor de harmonia da União da Vila do Iapi e integrante do grupo musical Louca Sedução. E na noite da comemoração  a dupla e os demais integrantes do grupo foram responsáveis por bons momentos de sambas legais.
Por fim, parafraseando Martinho (no sucesso Casa de Bamba) “"Na minha casa todo mundo é bamba, todo mundo bebe, todo mundo samba", e lá também se lambe as crias.
Edinho Silva

24 de out. de 2011

O carinho pelo metal

   



           O talentoso Marcelinho Metal, amigo do peito do Carlito Trovão, era um sujeito muito zeloso, disciplinado e "ligeiramente" possessivo com seu instrumento. Ninguém, nem objeto algum era mais importante do que seu trompete. Constantemente brilhante e bem cuidado "o cara" era armazenado num estojo moderno e inseparável. A Betina, mulher do Marcelinho, não aceitava muito bem o excesso do zelo. Inúmeras vezes discutiu, brigou e protestou exigindo mais atenção em relação ao "adversário". Não tinham filhos, pois segundo ELA, não cuidaria sozinha do herdeiro ou da herdeira. Fraldas, papinhas e educação ficariam sob responsabilidade dela e isto, seria inviável.
Quando não estava tocando, ficava em casa ensaiando o tempo inteiro. Segundo ELE: "A sorte acompanha os que estudam" - afirmava. E a rotina repetia-se o tempo todo. Agenda sempre lotada, não tinha tempo para eventos sociais e familiares. Na verdade, o moço exagerava um pouco. Não tinha Natal, aniversário de tio, reencontro de amigos, festas da firma, datas do casal, etc.
Pois, o Marcelinho foi convidado para um evento na cidade de Uruguaiana, centenas de quilômetros distante de Porto Alegre. Até aí, nada anormal. Afinal o sujeito era bom mesmo, não faltavam convites. O fato novo era de que a data do evento coincidia com o aniversário da sogra, dona Madalena. Estava armada a confusão!!! O sujeito não iria recusar um troquinho e a oportunidade de mostrar seu trabalho.
Chegou o dia esperado e no local combinado com a banda, quase dentro da van o “Metal” lembrou que havia esquecido sua carteira de identidade em casa. Desespero geral, pois sem documento não viajava. Rumaram para casa do cara para apanhar a carteira e depararam com a furiosa Betina, indignada com o marido. Aproveitando o retorno ao lar, o moço foi direto ao banheiro “sujar uma louça” – como costuma dizer. Na ausência dele – o Marcelinho é daqueles que lê um jornal nessas horas - a indignada mulher foi até o estojo do instrumento e só de raiva escondeu o trompete no quarto das crianças. Ao sair, despediu-se da moça e se foi ao concerto na fronteira do Brasil com a Argentina. O Carlito Trovão prefere não comentar o que aconteceu com o moço quando descobriu na passagem de som o que havia ocorrido.
Atualmente, o Marcelinho Metal não perde um evento social familiar e decidiu tocar apenas 2 vezes por semana. E de preferência, bem pertinho de casa para não correr riscos.



11 de out. de 2011

O guerreiro, seus amigos e seus tambores - Turucutá na área


   
               Certo dia enquanto caminhava por um movimentado parque de Porto Alegre para relaxar de uma pesada jornada de trabalho reencontrei um velho amigo: Flávio Guerreiro. Educador físico, vibrante professor de escola pública, agitador cultural, amigo dos amigos, apreciador de um bom samba e apaixonado por uma batucada. Depois de um longo papo, onde pudemos trocar histórias e vivências (EU com minhas andanças no mundo do futsal e ELE com suas experiencias no mundo escolar), o Flávio Guerreiro falou com muito entusiasmo do movimento ao qual estava inserido atualmente - Tucurutá - Batucada Coletiva Independente.
           Convidou-me para conferir as oficinas, desfiles e ensaios além de apresentar todos os benefícios que as batidas num tambor, o convívio entre amigos e a harmonia que a concentração dos batuqueiros representava. Fui conferir e não me arrependi. Como diz, o Betinho do pandeiro, lá da Tinga: "O  bagulho é bom mesmo, hein??". Empolgado, o Flávio Guerreiro contou-me numa das muitas vezes em que participei dos encontros do Tucurutá que, numa escola da zona leste da cidade onde algumas atitudes de violências entre adolescentes estavam ocorrendo a formação de uma banda musical conteve os ânimos mais exaltados. O professor localizou alguns instrumentos jogados numa sala do Colégio e propôs sua recuperação e a montagem do grupo musical anunciado. Santo remédio. Arte = disciplina + tambor + juventude.
             Então, meu caro Flávio...vida longa ao Tucurutá e às tuas inciativas que envolvam pessoas, arte e sentimento.

Edinho Silva

Serviço:
Turucutá - Batucada Coletiva Independente

Oficina de Percussão

Aos SÁBADOS, na Quadra da Academicos da Orgia (av. Ipiranga, próximo ao Mac da Silva Só)
Horário: 14h às 15h30min - antes do ensaio da bateria.

28 de set. de 2011

E o samba pede passagem - Dá-lhe BATICUMBUM



                Para os apaixonados pelo Carnaval, carnavalescos e simpatizantes, os projetos e expectativas para o desfile do ano seguinte iniciam já no momento da dispersão. Em plena avenida. O frio na espinha e a energia das apurações são, sem dúvida nenhuma, outro ponto alto do processo todo. Porém, a divulgação do novo samba enredo das Escolas, o troca-troca dos destaques, a ordem do desfile, a migração de uns, o retorno de outros, os bastidores do mundo da folia, as imagens e colorido das fantasias e dos novos modelos de fantasias, a cobertura dos festivais dos sambas enredos, o solista que troca de agremiação, a passista que deixa o Carnaval, a nova coreografia da Comissão de frente premiadíssima, os projetos sociais e as "tradicionais" feijoadas carnavalescas, os "boatos da lenda urbana", a simpatia das Velhas Guardas, entre outras coisas precisam e devem ser divulgadas. 
               E se TUDO isso for produzido e elaborado com refinamento, fidelidade nas fontes, col nas imagens  e graça nos textos é melhor ainda. Não acham?? No ar o novo informativo sobre Carnaval  www.baticumbum.com.br/ .
Quem assina? Nossa querida e simpática jornalista, Alice Mendes, talentosa, ousada e amiga do Carnaval de Porto Alegre, do RS e do Brasil. 
Eu e toda a galera do Armazém do seu Brasil estamos afinados e ligados no novo canal. E voce, não vai agitar a bandeira?? Não irá descer da arquibancada?? Nem cantar o samba da Escola?? No teu lugar, eu conferia... 

Edinho Silva

23 de set. de 2011

Aeroporto em festa


         
     Alguns amigos meus e do Zé Prettin integravam um conhecido grupo de danças populares de Porto Alegre. Certa ocasião reuniu umas economias, fez alguns contatos, preparou figurino, "lapidou" coreografias, ajustou os passaportes e rumou além fronteiras. Compromissos marcados, a turma desembarcou no aeroporto de Ruzyne, em Praga para a participação de um festival de arte, cultura e danças naquele acolhedor lugar. O grupo não era muito numeroso, mas contava com a simpática e enérgica participação do Mário "Gato" e seus irmãos.                                                
        Uma familia de branquelos, olhos claros e muito bons de ritmo que garantiam o sucesso e a trilha sonora da trupe. Juntamente com seus irmãos, o cavaquinista Anselmo, os percusionistas Laurinho do pandeiro e Telminha Batucada, o Mário Gato, com seu violão e seu gogó,  "explodia" de balanço e suingue qualquer espaço por onde passassem. As danças e roupas estavam garantidas e a familia do bichano(Gato) bancava o ritmo.
       Ao chegar no aeroporto de destino carregando instrumentos, bandeiras do RS e do Brasil, mais uma porção de quinquilharias gaúchas o grupo foi chamando a atenção dos demais passageiros pela euforia. Abordados pela segurança do local, após as devidas identificações forma informados que o transporte que os levaria à Cidade do evento estava atrasado e demoraria algum tempo mais para o translado. Inquieta, Telminha, a única moça da banda e irmã do Gato, aproximou-se de um bar do aeroporto e comprou umas cervejas. Torrou o dinheiro das refeições daqueles momentos. Empolgado e com a cerveja na cabeça, o alemão Anselmo sacou o cavaquinho e começou a dedilhar um samba. O GATO que não era de deixar nenhum irmão mal, tirou o violão do estojo e saiu metendo samba. E o Laurinho?? "Explodiu" seu pandeiro de pancadas. Estava formada a batucada no aeroporto de Praga. Regada à cervejas e muito samba. As pessoas não entendiam nada, pois muitas haviam ouvido falar coisas do Brasil completamente diferente do que viam. Tinham a idéia de um país mestiço que adorava caipirinha e não branquelos de olhos claros na maior cervejada. Bandeiras brasileiras tremulando, passistas e bailarinas sambando, o grupo cantarolando músicas do Cartola, da Ivone Lara, do Lamartine Babo e de muitos brasileiros de destaque no cenário nacional. E assim prosseguiu a festa. As pessoas sorrindo, sambando e cantando, bebendo e celebrando, o estojo do violão aberto e as notas estrangeiras sendo depositadas. A alegria estava garantida e a janta também.
       Da forma como conhecemos (eu e o Prettin) a familia do Mário Gato e as folias no litoral gaúcho aquele espaço de pouso e decolagem nunca mais foi o mesmo.

Por Edinho Silva

Aromas natalinos



              Um passeio familiar deve ser valorizado a todo momento. Assim pensava o Bastião - o premiadíssimo mestre-sala da Unidos do Ouro Verde. Com a chegada do Natal o moço decidiu levar sua mulher Josi e as duas filhas pequenas, Marcinha (4 anos) e Dorinha (8 anos), a um passeio na cidade de Gramado visitar a cidade e curtir a decoração natalina do lugar.
              Economizando dinheiro para os presentes optaram em tomar um café colonial bem reforçado como única refeição do dia. Escolheram um local de farta e variada comida com muitos pães, cucas, doces, salgados, vinhos, sucos, leite, frios coloniais, etc. O Bastião "apavorava" tudo que vinha pela frente. Sem culpa, comia e bebia sem compaixão. Era salame com geléia de frutas, café com leite com costeleta de porco, pão colonial com ricota, bolos com presunto, omeletes, tortas com vinho. Uma mistura sem critérios. A Josi tentava alertá-lo: "Não exagere, homi!! O dia apenas começou". Uma das meninas, a Dorinha, tinha medo do bom velhinho e chorava muito quando estava próxima ao Noel. Naquele dia a garota prometeu aos pais que manteria a calma. Após algumas caminhadas e visitas a lugares turísticos, rumaram à  fábrica de brinquedos para apreciarem o local e providenciar uma foto com o Papai Noel. Chegando lá, encontraram um senhor simpático, vestindo uma bela roupa vermelha e sentado numa poltrona confortável.      
            Recebia a todos com muita cordialidade para a sessão de fotos. Depois de enfrentar uma fila, a familia do Bastião e da Josi, posicionou-se ao lado das meninas e do bom velhinho. Naquele momento, algo marcava um certo desconforto na barriga do Bastão. Algumas cólicas e o desejo de invadir um banheiro a qualquer momento. A situação era delicada, pois a fila estava grande e a menina acalmada. A oportunidade não poderia ser perdida. O pai e a mãe, cada um com uma das meninas posicionaram-se ao lado do Papai Noel para as fotos. Bastião, o nosso mestre-sala, não suportou a pressão e justamente na hora do clique, o cara não segurou a emoção. Soltou um "rojão" silencioso, mas com um cheiro insuportável que misturava pizza de atum, com torta de limão, suco de laranja, café com leite, cuca de uva, costeleta suina. Uma verdadeira bomba. O velhinho enfurecido não pôde fazer nada, apenas lamentar e assumir a culpa diante das  pessoas que se aproximavam da doce figura. O Carlito Trovão afirmou que, faltaram detalhes para a Fábrica de brinquedos fechar mais cedo naquele dia. E o Bastião?? Quase de cueca suja vou buscar um banheiro e uma farmácia mais próxima.

21 de set. de 2011

Saudades de um sambista - parte 2



        Como mediador e consultor do Cantakgente recebi a tarefa de estimular o LEF a arregaçar as mangas e comprometer-se mais com os interesses do grupo. Precisava empurrá-lo, captar contratantes, ampliar agenda, enfim envolver-se mais com os interesses da banda. E o cara sempre paciente  afirmava estar no caminho certo. "Nossa hora iria chegar" - afirmava ele convicto. Um tempo depois o grupo reorganizou seus projetos pessoais e abandonou a "carreira artística", mantendo as relações de amizade com o cara.
          Era comum a promoção de reuniões do grupo e a convocação do Leandro para a participação de rodas de samba regada a churrascos. O moço era escalado para trazer o gelo da caipirinha, mas sempre chegava depois da carne assada. Logicamente, sem a encomenda. No mínimo, em 3 edições, teve que rumar às pressas para o postinho mais próximo para recarregar o estoque de cerveja por conta disso. A desculpa era sempre a mesma: "Bah, onde estava não tinha gelo e circulei a cidade toda à procura". Todos sabiam que era lorotinha, mas era impossível não aceitá-lo daquele jeito.
             Para atingir o grau de qualificação dos serviços da Produtora era preciso conter impulsos, projetar grupos novos, distribuir tarefas, pagar os músicos conforme a combinação, investir na credibilidade do, parceiros, distribuir tarefas e misturar “sutilmente” as classes sociais no cenário musical. Como assim? Agregar a imagem e simpatia do asfalto na linha de frente dos grupos à qualidade técnica da periferia na retaguarda (banda de apoio). Isto não é nada fácil. Para o LEF isso foi barbada. Talvez ELE nem tenha percebido, mas todos seus movimentos e ações na noite revolucionaram muitas coisas no cenário do entretenimento jovem. Conseguiu a motivar muitos alunos de escolas de tradicionais e seletas da cidade a batucar e providenciar seus pandeiros, seus cavacos e violões. Instaurando assim um “pagode chique que invadiu alguns espaços nobres da noite da Capital. Apresentou a efervescência das noites de Atlântida e Xangrilá a muito músico notável(?) da periferia. A fórmula era simples: em muitos casos, na linha de frente rostos bonitos e corpos sarados e na retaguarda um balanço e um suingue direto das rodas de samba mais populares da cidade. Testemunhei muita banda de apoio formada por músicos da Restinga e da Bom Jesus garantir o animado balanço dos jovens da Bela Vista e dos Moinhos de Vento. E nesta função o LEF era craque. Administrava vaidades, caprichos, “cachês”, agendas, pseudo-músicos, sambistas tradicionais, seguranças rebeldes, promoters soberbos, etc. Distribuir tarefas, acolher,  negociar valores era com ELE mesmo. Particularmente, tínhamos algumas divergências conceituais, porém o tempo e a disciplinada gestão dos seus negócios mostrou quem tinha razão.
        Quando o Nards compôs o “Voce vai ver, vou fazer e acontecer” deve ter se inspirado em alguma fala do LEF, pois o cara fez e aconteceu mesmo. Dono de casa noturna que desejasse "explodir" sua festa deveria buscar a parceria do Leandro e seu talentoso time. Depois disso já era meio caminho andado e a festa já ganhava forma, mulher bonita, gente alegre, fila na porta e animação. 
          O tempo não pára e infelizmente, não tive o prazer de brindar com café e conhecer as novas instalações da Produtora na companhia dele. Muitos convites foram feitos, porém nossas agendas não encontravam-se. Num dos últimos encontros que tivemos no belo Café Moinhos  confidenciou-me: “Gostou da casa, Edinho?? Tu viu que beleza?? Sou um sujeito de sorte, que coisa linda ter um sócio que alia amizade, bom gosto e fidelidade. Ter um sócio arquiteto é outro papo, né mesmo?? Rimos juntos e brindamos com cerveja gelada.
            Na concorrida despedida do cara, em meio a expressões emocionadas, muitas flores, a mistura de povo (do morro e do asfalto), rostos tristes, duas imagens marcaram: a condução do seu corpo pelos braços dos amigos e a execução de sambas na voz dos presentes. Interpretações emocionantes. 
           Que encontres no outro plano de vida, todas as condições possíveis para uma estadia tranqüila na colônia dos enfermos e a seguir, em outro espaço, os parceiros e as condições para fazer muita ZUEIRA no andar de cima.
            E nós ficamos por aqui com saudades e aguardando os próximos dias da noite pagodeira de Porto Alegre. Afinal, imagino  um cenário em que o brilho do LEF marcou espaços e um outro a partir de sua partida. 
        Enquanto redigia este texto, abri uma cerveja uruguaia bem gelada e ouvi a composição do Jorge Aragão (Moleque atrevido) "Respeite quem pode chegar onde a gente chegou..." tudo isso focado nas lembranças da  tua presença.   

Por Edinho Silva

20 de set. de 2011

Saudades de um sambista - parte 1




           Quando  idealizei  o  Armazém  do seu Brasil imaginava uma  proposta  original e cheia de bom humor, porém é inevitável não registrar alguns “tropeços na caminhada”. Estou me referindo a partida precoce de um grande parceiro  de samba, cerveja gelada, de risos largos, lascas de costela  e de roda de amigos. Estou falando do Leandro LEF Silveira.
              aproximadamente 7 anos, por intermédio do grupo de samba e pagode  Cantakgente (Marcos Docinho, Rodrigo Bronquinha, Felipe Fifo, Fernando China, Fafaco, Luciano e o Diego Boy) uma galera universitária bacana que batucava um sambinha legal nos  finais de semanas conheci o moço. Era uma época de transição na cena musical e noturna de Porto Alegre. O samba saía dos condomínios, dos bares das Faculdades e ocupava espaços antes ocupado por pop rock, reggae, house e música eletrônica. Em São Paulo, por exemplo, Jeito Moleque e Inimigos da HP arrastavam milhares de fãs por onde passavam. Embora, sem conhecer a estrutura de bastidores destas bandas, seguia colaborando com meus amigos gaúchos vencedores da primeira edição de um Festival de samba e pagode de um conhecido jornal do RS. E o Leandro LEF onde entra nisso?? Já explico. Certo dia, na companhia do Marcos Docinho fui até o apartamento de um condomínio popular próximo ao Estádio Olímpico para ser apresentado ao Leandro. Na ocasião, produtor, empresário e, sobretudo, amigo do grupo. Como a carreira do jovem empresário estava na fase inicial o ambiente de trabalho me assustava um pouco. Era alguns banners espalhados, flyers de uma pequena casa da Venâncio Aires, instrumentos musicais pelos quartos, telefones tocando, pessoas circulando. Uma ligeira bagunça. O que me surpreendia mesmo era a ACOLHIDA e o CARINHO oferecido pelo responsável por tudo aquilo. Nunca faltou um cumprimento firme, uma palavra de afeto, um copo de coca-cola gelada, um sanduiche e uma boa conversa. Assim foi a forma que fui apresentado ao Leandro. Cheio de sono, com um copo de refrigerante na mão, um sorriso no rosto e alguma idéia para incrementar o Pagode Universitário dos pampas.             

19 de set. de 2011

Quem corre por que quer, não cansa

                Carnaval de 1998 numa cidade do Interior do RS, bateria tinindo, as alas organizadas, microfones testados, harmonia afinada e o solista principal prestes a iniciar o “aquecimento” para entrar na avenida dos desfiles. Quem era ele?? Marcinho Gogó de ouro – nome de ba tismo:  Márcio Soares de Azevedo.
               Em meio a toda a agitação da concentração que os carnavalescos já conhecem, surgiu um senhor com cara de brabo, terno bem alinhado e pasta de couro sob o braço. Era um oficial de justiça que portava nas mãos uma folha de papel timbrado de uma movimentada Vara  de Familia (pensão alimentícia) do Estado e tinha como destinatário o Sr. Márcio Azevedo. Perguntou ao primeiro carnavalesco que viu pela frente sobre o tal moço. Coincidentemente, o Marcinho Goró, o próprio interessado foi a primeira figura a ser abordada. Na maior “cara de pau” o cara negou que conhecia. Prosseguiram-se as abordagens e nenhum sucesso. E o moço da Justiça circulava entre os carnavalescos. Perguntando a todos sobre o Sr. Márcio. E o Goró, quietinho, como se o assunto não fosse com ele.
             Alguns minutos antes do desfile da Escola iniciar, o desavisado diretor de bateria Miltinho Tamborim aproximou-se do Marcinho e em alto e bom som chamou o amigo pelo nome, despertando a atenção do “homem da justiça”.  No mesmo instante o “representante da lei” caminhou na direção do Marcinho Goró ou sr. Márcio Azevedo e este soltou para o alto o microfone, saindo às pressas rumo às arquibancadas e misturando-se entre as pessoas presentes naquele espaço. Cenas hilária e corridas sem rumo  em plena avenida. O Carlito Trovão jura que a escola desfilou legal com a presença do puxador de samba Gogó,  depois de muita negociação entre a autoridade e a diretoria da agremiação.