Era uma turma de alunos ecléticos apaixonados por rádio num curso de radiodifusão oriundos de diferentes segmentos: jornalistas, estudantes, publicitários, policiais civis, famosos, anônimos, pretos, brancos, mulatos, loiros, jovens senhoras, elegantes donzelas, militares, enfim, gente de todos os grupos.
A galera era estimulada pelo professor a participava com vontade das aulas. Numa destas intervenções surgiu uma que, chamou minha atenção. Um sujeito de cabelo loiro, bermuda de surfista, chapéu de malandro da Lapa, tênis da moda, uma fala mansa e falando de samba chamou minha atenção. Falava de Elton Medeiros, Arlindo Cruz, Nelson Sargento, Ivone Lara, Cartola, Noel, Paulinho da Viola e todos os sambistas imaginados.
Era muito samba de qualidade vindo de um sujeito com um perfil de regueiro. Cheguei a comentar com um outro colega: "Putz, o loiro ali tá cheio de onda. Não manja nada, memorizou uma dúzia de nomes do samba na internet e veio fazer estilo" - sentenciava, eu, repleto de conceitos pré-concebidos pela forma de vestir do cara. Em alguns intervalos das aulas chegamos a conversar sobre samba. Mas honestamente não apostava muito no conhecimento do cara.
Num domingo ensolarado, passeava com a família próximo à Usina do Gasômetro quando ouvi um sons de cavaco, pandeiro, surdo, violões que vinham de uma grande roda de samba situada no meio da rua. Literalmente. O samba era da melhor qualidade e o local irradiava uma energia inexplicável. Ao nos aproximar, percebi que o cantor e cavaquinista era o "alemão das aulas de rádio". Educadamente, depois de tocar mais uns 2 ou 3 sambas, transferiu o cavaco para outro parceiro e aproximou-se. Após as apresentações e cumprimentos a conversa fluía mais leve. Neste momento, o sambista loiro de calos nos dedos, cheio de simpatia e ginga, falava sobre sua rotina dominical e toda sua afinidade com o mundo do samba local e pesquisa das fontes mais ricas da poesia popular dos morros, terreiros e asfalto. Descobrimos juntos muitos amigos comuns de batucadas.
E assim fui gradativamente acompanhando os acordes, os sonhos, sua evolução e ousadia, até chegar na concretização de um sonho. Será que disse tudo?? Não sei, comigo é PRETO NO BRANCO. Né mesmo, Fábio Santiago???
Por Edinho Silva
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