Meus
queridos,
A vida poderia ser eternamente uma grama verde no
pátio de nossa casa, um riso nos lábios, um abraço apertado, um bom prato de
arroz com feijão temperado, um beijo do neto ou do filho, uma taça de espumante
com o amor da nossa vida, um bom filme no cinema, um naco de chocolate, um
chopp gelado, mas infelizmente, não é.
Existem coisas tristes.
Muito tristes. Injustiças sociais, concentração de renda, corrupção, má gestão
dos recursos públicos, ganância, soberba e alguns fatos como a brutalidade da
situação apresentada em matéria publicada pela Tribuna de Minas Gerais.
Leia e se possível,
acesse o site do post. O resto é lágrima no nosso olho.
Beijo.
Edinho Silva
- Por DANIELA ARBEX –
Milhares sucumbiram de frio, fome, tortura e doenças curáveis; 50
anos depois, ninguém foi punido por este genocídio
fonte: http://www.tribunademinas.com.br/cidade/holocausto-brasileiro-50-anos-sem-punic-o-1.989343
Não se morre de loucura. Pelo menos
em Barbacena. Na cidade do Holocausto brasileiro, mais de 60 mil pessoas
perderam a vida no Hospital Colônia, sendo 1.853 corpos vendidos para 17
faculdades de medicina até o início dos anos 1980, um comércio que incluía
ainda a negociação de peças anatômicas, como fígado e coração, além de
esqueletos. As milhares de vítimas travestidas de pacientes psiquiátricos, já
que mais de 70% dos internados não sofria de doença mental, sucumbiram de fome,
frio, diarréia, pneumonia, maus-tratos, abandono, tortura. A reportagem
descortinou, ainda, os bastidores da reforma psiquiátrica brasileira, cuja lei
sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais,
editada em 2001, completa dez anos, embora nenhum governo tenha sido
responsabilizado até hoje por esse genocídio.
Criado pelo governo
estadual, em 1903, para oferecer "assistência aos alienados de
Minas", até então atendidos nos porões da Santa Casa, o Hospital Colônia
tinha, inicialmente, capacidade para 200 leitos, mas atingiu a marca de cinco
mil pacientes em 1961, tornando-se endereço de um massacre. A instituição,
transformada em um dos maiores hospícios do país, começou a inchar na década de
30, mas foi durante a ditadura militar que os conceitos médicos simplesmente
desapareceram. Para lá eram enviados
Sem qualquer
critério para internação desafetos, homossexuais, militantes políticos, mães
solteiras, alcoolistas, mendigos, pessoas sem documentos e todos os tipos de
indesejados, INCLUSIVE inclusive, doentes mentais. Eles abarrotavam os vagões
de carga de maneira idêntica aos judeus levados, durante a Segunda Guerra, para
os campo de concentração nazista de Auschwitz, na Polônia. Wellerson Durães de
Alkmim, 59 anos, membro da Escola Brasileira de Psicanálise e da Associação
Mundial de Psicanálise, jamais esqueceu o primeiro dia em que pisou no hospital
em 1975. "Eu era estudante do Hospital de Neuropsiquiatria Infantil, em
Belo Horizonte, quando fui fazer uma visita à Colônia 'Zoológica' de Barbacena.
Tinha 23 anos e foi um grande choque encontrar, no meio daquelas pessoas, uma
menina de 12 anos atendida no Hospital de Neuropsiquiatria Infantil”. A
metáfora que “tenho sobre aquele dia é daqueles ônibus escolares que foram
fazer uma visita ao zoológico, só que não era tão divertido, e nem a gente era
tão criança assim”. Segundo o psicanalista, o sentimento unanime era de impacto
causando lágrimas coletivas.
Em meio a ratos,
insetos e dejetos do lugar, até 300 pessoas por pavilhão deitavam sobre a forragem
vegetal, capim que servia de colchões. "O frio de Barbacena era um
agravante, os internos dormiam em cima uns dos outros, e os debaixo morriam. De
manhã, tiravam-se os cadáveres", contou o psiquiatra Jairo Toledo, diretor
do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB).
Atualmente 190
pacientes asilares estão sob a guarda do Centro Hospitalar Psiquiátrico de
Barbacena (CHPB), mas sua sobrevida é estimada em, no máximo, mais uma década.
Para que a memória não seja enterrada, o Museu da Loucura vai continuar
lembrando o que, convenientemente, poderia ser esquecido. Idealizado por Jairo,
o museu foi inaugurado, em 1996, no torreão do antigo Hospital Colônia, e
pretende ser um tributo às dezenas de milhares de vítimas da lendária
instituição. Em 2008, a publicação do livro "Colônia", também
organizado por Jairo, expôs as feridas de uma tragédia silenciosa abafada pelos
muros do hospital. "Por mais duro que seja, há que se lembrar sempre, para
nunca se esquecer - como se faz com o holocausto - as condições subumanas
vividas naquele campo de concentração travestido de hospital. Trazer à tona a triste
memória dessa travessia marcada pela iniquidade e pelo desrespeito aos direitos
humanos é uma forma de consolidar a consciência social em torno de uma nova
postura de atendimento, gerando uma nova página na história da saúde
pública", afirmou o ex-secretário de estado da
saúde de Minas, o deputado federal Marcus Pestana. (PSDB/MG).