Imagem disponível nas redes
Almoçando com
três amigas de longa data, veio a pauta racismo. Única preta à mesa, fui questionada
se e quando passei por situações de racismo. Contei que a primeira vez que tive
consciência da diferença racial, foi, pasmem (ou não), na Faculdade, não só no
campus da comunicação, onde cursava jornalismo, mas em outros campus por onde
transitava. Nunca me portei como ser inferior, mas a percepção de que a
supremacia branca queria assim se manter ficou latente.
Tiveram outros casos, pós-universidade,
mas sempre muito disfarçados. Mesmo assim, não enfrentava essa pauta
necessária, não só para nós, pretos, mas também para toda a sociedade. Hoje me
posiciono, pois não devemos retroceder um milímetro sequer.
Dito isso, é imperioso falarmos sobre o
que aconteceu com a família da atriz Giovanna Ewbank em Portugal, quando uma
mulher branca destratou seus filhos pretos e outras pessoas de uma família
angolana. A “mais suave” das frases foi “Voltem para a África”. Giovanna foi
para cima e até estapeou a mulher. Eu faria o mesmo, pois mexeu com minhas
crias e com as crias dos meus amores da família, mexeu comigo. Como diria meu
pai, “É aí que o pato come!” Óbvio que me tornaria a vilã, por ter partido para
o tapa. Mulher preta.
O que me causou felicidade (se é
que podemos falar em felicidade nesse caso tão triste) foi confirmar tudo que
já sabia. Giovanna e Bruno Cagliasso têm plena consciência do privilégio branco
e fazem a leitura de que se ela fosse uma mãe preta, o desfecho seria outro.
Pois o risco dos pretos ao confrontar pessoas brancas, é imensurável e levariam
uma mãe preta a se calar na mesma situação. Desde que o filho nasce, a mãe
preta já passa pelo dilema de ter que orientá-lo a como se comportar. “Não
corra, não responda ao ser confrontado, não carregue guarda chuvas grande”, são
apenas uns exemplos da doutrinação dos nossos jovens pretos pelos pais
preocupados e zelosos, para que eles possam viver em sociedade.
Não basta ser antirracista. Tem que
trazer essa pauta para o dia a dia, falar com nossas crianças sobre isso e ser
empático. Minha filha mais velha a partir do momento do seu renascimento (como
ela diz) passou a ter uma mãe preta. Desconheço ser mais atento às armadilhas
racistas. A menor não fica atrás, toda ativista em vários temas, inclusive a
pauta do racismo.
Fiquei muito tocada com o que
aconteceu com os pequenos filhos dos atores, tão jovens e já passando por essa
mazela que insiste em permanecer em pleno século XXI. Temos muito que caminhar.
Para finalizar quero lembrar o que
vi dia desses. Um jornal colocou a foto de uma senhora negra e a descreveu como
descendente de escravos. Pode parar. É a nossa história que querem ainda nos
roubar. É nossa ancestralidade pedindo passagem. Sim, os ancestrais dessa senhora
foram ESCRAVIZADOS (caixa alta necessária). Mas foram arrancados de onde? Está tudo
errado, mas estamos de olhos bem abertos, sempre vigilantes. Hoje eu fico por
aqui, acreditando em um mundo melhor! Até a próxima!
Um beijo da Indaiá Dillenburg