26 de dez. de 2011

Alta gastronomia


Em meio a muitas promoções realizadas na Agremiação de Carnaval da Vila Pureza, a  Comunidade onde mora o passista Miguelzinho estavam previstas muitas ações de arrecadação de recursos para custear o Carnaval. Pois, o cara  resolveu arrecadar algum para custear os calçados da sua ala. Decidiu rifar uma cabeça de porco assado durante a tarde de pagode e roda de samba da Escola. Há alguns dias negociou com seu José, o açougueiro do bairro a doação da carne suína. Ajeitou também o processo de assado e as guarnições com a Dona Matilde da padaria. Enfim, “apertou”  a todos e garantiu numa bela bandeja o assado a ser sorteado.
Na banquinha da Ala, expos o prêmio e passou a comercializar os talões da “Ação entre amigos”. Inicialmente, seus parceiros de Carnaval sugeriram que, produzisse  apenas 100 bilhetes, pois assim certamente as chances de algum sortudo ganhar seria maior. O Miguelzinho, ganancioso e espertalhão, não ouviu ninguém  e providenciou 1.000 talões. Assim arrecadaria mais e aumentaria as possibilidades de não entregar o prêmio.
Em meio ao samba que rolava pesado  entrou na quadra  o  Cidão, chefe das bocas da Comunidade, cercado de seguranças e mulatas. O moço era um sujeito de grande porte, cara de poucos amigos, risos escassos, mas ao som de um pandeiro ficava de alto astral. Também curtia uma apostinha o moço.  Eram 15h quando avistou a barraca do Miguel e fitou a cabeça do porco. Ofereceu R$100,00 reais pelo produto (afinal, dinheiro não era problema para ELE). O sambista recusou, pois havia comercializado outros canhotos com outras pessoas. Enfim, o Cidão comprou 100 números e foi curtir o samba. Trinta minutos depois reuniu os amigos e foi embora. Lá pelas 17h, o Beto Tamborim aproximou-se do Miguelzinho e perguntou como estavam as vendas. Até aquele momento, tinham sido comercializados 238 talões, aproximadamente (incluindo os do Cidão). Assim, ambos concluíram que as possibilidades de entrega do prêmio seriam remotas. Era tudo que o Beto queria ouvir. Rapidamente propôs ao Miguelzinho tirar umas “lasquinhas” da cabeça do bicho. Uns aperitivos com cerveja gelada e um bom samba sempre caem bem, né mesmo??
A Tininha Poderosa, madrinha da bateria chegou na roda de samba perto das 18h 30min, por conta do trabalho. Arrecadava apostas de jogos do bicho e não conseguia chegar mais cedo. Como era próxima da turma do Miguelzinho (afinal quem conviveu em Escola de Samba sabe que o sentimento que impera é de família) chegou até a banca da Ala do cara. Em meio ao bate papo, algum gaiato perguntou qual tinha sido o resultado da Loteria Federal. Acreditem?? O primeiro e o terceiro prêmio eram exatamente alguns dos vendido ao Cidão. Portanto, o prêmio havia sido sorteado. Havia um vencedor da rifa. Um possível problema seria o cara vir buscar a carne suína, afinal restava o nariz e uma carcaça pelada. Estava tão boa, que o Beto, o Miguelzinho e os amigos pelaram a cabeça. Para desespero de todos presentes, poucos  minutos depois adentrou na Escola o sorridente e feliz Cidão com seus bilhetes na mão. Algum amigo próximo deu um grito: “Larga, Miguelzinho!!! O homi veio buscar seu porco”. Correria geral e a banca da Ala do Gingado, como era conhecida ficou vazia. O que restou foi uma bandeja, com alguma farofa, um punhado de fios de ovos e uma ossada suína. Nem a orelha sobrou. O Cidão urrava de brabo. Seus seguidores e “apoiadores” sacaram suas armas e o medo prevaleceu. Somente uma intermediação da Tininha e do seu Guedes, o patrono da Escola foi capaz trazer a tranquilidade ao lugar. O Carlito Trovão disse que depois daquele dia foi proibido qualquer jogo de azar na quadra de samba. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário