22 de out. de 2013

O SAMBA QUENTE da Zona Norte



 

            Ainda adolescente, conheci um sujeito pra lá de especial. Seu nome? Manoel Jeronimo.Seu apelido?? Nego Lon. Gostávamos de coisas em comum. Uma boa disputa de futsal, um bom churrasco e um sambinha de qualidade. Quando o conheci era um sujeito alto e franzino. O tempo foi passando e seu interesse por atividades físicas aumentou e com isso sua simpatia por ferros e halteres da academia aumentou. Resultado: Ganhou uma massa muscular bacana.

            E o samba onde entra na história?? Na companhia dos seus irmãos, Dadinho (já falecido) e do Maurinho, integravam a bateria da União da Vila do IAPI. Suas irmãs, Zete e Neca também gostavam muito de uma boa roda de samba. E o resultado disso refletiria direto no Marcelo Leandro, neto mais velho, do seu Osvaldo e da Dona Juraci. Moradores da Vila Floresta, a família Fraga da Rosa, mantinha a casa sempre muito agitada cercada de amigos ao som de muita batucada. E nesse clima foi concebido o grupo Samba Quente.

            Dentre as muitas situações que vivenciei perto deste "povo", destaco uma comemoração de aniversário realizada por lá. A anfitriã, dona Jura, mãe do Lon, já atingida pela diabetes, mantinha o comando das panelas e da energia que rolava em sua casa. Comemorando seu aniversário, distribuía mocotó para alguns, churrasco para outros, salgadinhos e macarronada. Na parte dos fundos da casa, uma animada roda de samba. Na sala, a Black music pegava no som mecânico. Na cozinha, os sons se cruzavam e a tia Jura, apoiada numa cadeira (pois tinha tido uma perna amputada), sorria e sambava. Retrato da euforia e resistência, herdada pelo nego Lon.

             Através deste moço, pude me aproximar da Batucada do Iapi e de muitos outros sambistas da Zona Norte. Conheci Caco Rabelo, nego Isolino, alemão Charles e muito mais sambistas que circulavam pela Zona Norte e conviviam com o Samba Quente. Nos anos 90, o samba migrou para o Centro de Porto Alegre e explodiu as sextas-feiras com os sambas do El Bodegon e do Panela de Barro. Era muita gente sambando sob o ritmo do Samba Quente e da turma do nego Lon. Passado algum tempo, a vida não poupou o moço.Veio perdas irreparáveis de paredes e sérios problemas de saúde. Com muita força e perseverança enfrentou as agruras e a hemodiálise sucessiva. Constituiu família, gerou filhos e, inquieto, não se acomodava para alavancar e esquentar novamente a Zona Norte com muito samba de qualidade.

            E assim, driblando as flechas e lanças na sua direção, permanece apostando nas pessoas, nas relações, engolindo e digerindo "sapinhos" de todas as formas, valorizando o samba cantado pela marron Alcione..."Não deixe o samba morrer...não deixeo samba acabar" e como FÊNIX, ressurgindo das cinzas para recomeçar todos os dias, um novo dia com muito SAMBA ARDENTE, digo, quente na Zona Norte. Era isso.
           Com todos os defeitos de cada um de nós, conseguimos construir ao longo do tempo uma mistura de admiração, amizade e apreço. Simples. Edinho Silva
 
Da série – Grandes amigos do Armazém – "Um pouco da história do Nego Lon, do Samba Quente"
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 



 

3 comentários:

  1. Bacana, nego! Esse cara é um lutador em prol da causa. Abraço a ambos!

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  2. muito linda a trajetória desse guerreiro

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  3. Sambaquente Nego Lom



    oi Edson tal relato só poderia ter vindo de alguém que, como voce, me conheces a fundo e inclusive a história da minha humilde mas valiosa familia que, sempre foi dirigida pela Senhora honrada que era a dona Juraci, com que aprendi a amar, respeitar, e dar valor a todas as pessoas, independente sexo, opção sexual, cor, religião, time, ou qualquer outro fator. Vivíamos assim, duros sem grana pra nada, mas sempre unidos e com muita fé, e cada momento que podíamos festejávamos como se aquele fosse a últimas oportunidade em que estaríamos todos reunidos na mansão black, apeido dado a nossa residência, onde a humildade, mas a honestidade fazía que com muito orgulho sempre colocássemos mais água no feijão para recebermos a todos os amigos querido e, onde aos poucos fomos nos interessando por este que hoje é a nossa bandeiro o Samba. E ai tudo aos poucos foi acontecendo até que nos tornamos um grupo Musical em família a famíla Samba Quente hoje, com 26 anos composta primeiramente por eu, Nego lon, Maurinho, Dadinho(falecido), Omar(falecido), Renatinho(tantan), Alemão no cavaquinho(charles), Hermes violão 6 inicialmente, e embora alguns infelizmente já tenham ido pro andar de cima ainda hoje continuamos defendendo com todas as dificuldades inerente à Musica popular no brasil, a bandeira do nosso amada samba. Obrigado pela homenagem a este humilde negro Edson(pequeno) que de pequeno nunca teve nada és uma pessoa gigantíssima, irmão.

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