Acredito
– veja bem, uma opinião meramente pessoal – que é quase impossível, se não for,
manter nossos pensamentos “radicais” num sentido positivo diariamente. Seria
como concordar que não há frustrações que nos abalem, nem momentos que fiquemos
para baixo, chateados, desolados. Mas, se me perguntarem se é possível usar
esses estímulos desagradáveis, e fundamentais, para retornar a nossa
“adrenalina positiva” eu diria que é aí que se identifica a inteligência
emocional de cada um. A raiva, tristeza, e todos os sentimentos rotulados como
negativos possuem um grande potencial impulsionador, são fortes, geradores de
muita energia, portanto quando bem aproveitados nos trazem frutos positivos.
Mas,
como pensar positivamente quando se está com uma bagagem emocional dolorosa? Difícil,
né? Ainda mais quando nossos pais e adultos que nos cercavam quando éramos
crianças nos davam total preferência em tudo, por que, “tadinhos”, fazer chorar
é desamor. Lágrimas de muito aprendizado, necessárias para a expertise,
autonomia, resiliência que nos faltam hoje para vermos que momentos ruins são
passageiros e logo vem a melhor saída, de cabeça e coração tranquilos. Ainda
somos aquela criança, no íntimo, quando algo negativo acontece e agimos
imaturamente, a diferença é que já superamos a perda daquele chocolate que a mãe
não deu, somos maduros demais para chorarmos pelos chocolates.
Mas
o que é ser maduro? Ter mais de 30 anos, um carro, uma casa, uma família, um
emprego que pague bem? Viver uma vida “radical” no mundo dos pensamentos não
tem nada a ver com esses títulos e questões externas – conforto e conquista
material são bons, mas não determinam nada. Podemos muito bem comprar uma bicicleta
e nos sentirmos gratos e alegres como se fosse um carro do ano com teto solar,
depende do valor que depositamos no fato, não é? Posso pegar a minha mulher,
colocar uma cadeira nessa bicicleta e pedalar por aí com ela na garupa,
sentindo o vento, e rir muito mais do que com o vento do teto solar – ainda
fico com umas coxas interessantes. Ah, e peço pra ela me levar também, aliás,
na descida não vale – juro que não é nas coxas dela que eu penso.
Diz
a cultura do capitalismo desenfreado que uma pessoa feliz precisa TER muito.
Isso mexe inconscientemente com aquilo que valorizamos, com o que achamos
precisar para sermos felizes. Inclusive, sermos vem de SER, não de TER. E todo
marketing é voltado para o emocional, o que comprova que tá dentro dos nossos
valores “o problema” que nos é condicionado.
Tudo
perpassa pela significação, o que depositamos naquilo, qual a importância que
damos para o fato, o objeto ou pessoa. Por isso, sob essa ótica, eu facilmente
diria que para que vivamos intensamente, precisamos reencontrar aquela alegria
de brincar, semelhante a da criança que ganhou uma bola de R$10,00 e ficou
eufórica como se custasse 10 mil, ou que ficou imensamente feliz por ganhar a
primeira bolacha da vida e saboreou com propriedade de quem sabe o que é ser
feliz e está tentando dar essa aula para nós: adultos que não prestam atenção.
Precisamos
tomar consciência de que o objeto não tem valor, o valor vem da gente, nós que
depositamos isso, portanto, somos responsáveis pela ressignificação também.
Afinal, se formos ficar muito felizes apenas com eventos raros e caros que
acontecem na vida, passaremos a maior parte dela esperando e pouco tempo
comemorando, concorda? Toda escolha é uma exclusão, seja inteligente ao
analisar o que quer excluir e o que quer adotar. Tudo isso vai atingir direta e
indiretamente teus pensamentos diários e a construção da única pessoa que tu
vai ter que conviver eternamente: tu mesma.
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