Acervo pessoal do Grupo Puro Asthral - Revellion 2016
Para tristeza de muita gente,
o Carnaval de Porto Alegre no ano de 2018 sofreu um duro golpe. Por diferentes
motivos (que prefiro abordar num outro momento) os foliões e simpatizantes da
maior festa popular do País – o Carnaval
não puderam exibir suas fantasias, enredos e euforias neste ano.
Não teve passista, nem
mestre-sala, nem ritmista, porta-bandeira, nem instrumentos e, tampouco
arquibancadas para os que costumam aplaudir a “ópera do povo” que é a folia de
Momo.
A tristeza abre espaço para
reverenciar um grande sambista e compositor de sambas enredos do Estado. O Rio
Grande do Sul ao longo dos tempos, foi celeiro de talentosos compositores,
porém afirmo, com letras garrafais, o mais impactante samba de exaltação à uma
Escola de Samba gaúcha foi o compositor
Wilson Nei – o poetinha do Sul, como é conhecido por gente que entende de samba
nestas regiões. Aos 15, compôs a
primeira obra. E não parou por aí.
Com fortes ligações aos
Imperadores do Samba, umas das tradicionais escolas de samba da Capital Porto
Alegre, o diretor de harmonia, violonista, compositor e intérprete Wilson Ney
dos Santos percebendo o grande entusiasmo dos carnavalescos vermelhos e brancos
(as cores da agremiação) compôs o samba
de quadra definitivo da Escola, onde destaca em “Convite ao Povo” os seguintes
versos: “Povo meu/ povo meu/Ainda resta um lugar na nossa Escola/desça da
arquibancada e vem sambar no Imperador/ Pois além da alegria também existe amor/. Um canto que inundava a avenida de
desfiles e contagiava os milhares foliões da ocasião independentes de
Agremiação carnavalesca. Imagens eletrizantes que os apaixonados pela Cultura
Popular registravam..
Filho de um
sapateiro com uma dona-de-casa e mais novo entre seis irmãos, Wilson Ney
começou a trilhar o caminho da música na Chácara das Pedras, bairro
popular em Porto Alegre. Aos 13 anos, já tocava violão com o grupo sambista “Povo
meu”. Sua estreia no Carnaval veio em 1971, quando foi convidado a compor um
samba de exaltação para a Sociedade Floresta Aurora. Samba que,
aliás, foi “extraviado”. Antes de apresentá-lo à sociedade, Wilson
Ney mostrou aos Acadêmicos da Orgia, que gostaram e acharam que o
samba deveria ser para uma escola, e não para um bloco.
Considerado um dos
grandes poetas do samba gaúcho e autor de mais de 500 obras, Wilson Ney ultrapassou
os limites do bairro na zona norte de Porto Alegre e conquistou fama
nacional, sendo gravado por Neguinho da Beija-Flor, Elza Soares,
Dominguinhos do Estácio, Leci Brandão e Alcione, entre outros.
Ao completar “algumas dezenas de anos de carreira”
traz na sua bagagem autoral um clássico samba do cancioneiro gaúcho do gênero
intitulado “Fogo de palha” (1978) identificado pelo refrão forte e apaixonado: “Vá,
sou o primeiro a lhe dar a mão ...Agora que eu quero ver...Se eu ou se você
estava com a razão...Se foi fogo de palha ou não” A carreira do
compositor nada tem a ver com o título de sua composição. Sua inspiração nunca
foi passageira. Nem o seu talento.
Assinou ao longo
de sua carreira muitos sambas-enredo de escolas como Imperadores do Samba,
Acadêmicos da Orgia, Beija-Flor do Sul, Império da Zona Norte e Copacabana. Foi
tema enredo dos Fidalgos e Aristocratas e passou pela direção de harmonia da
maioria das entidades carnavalescas locais.
Torcendo que o
Carnaval de Porto Alegre, meu, do Wilson Ney e de tanta gente possa renascer, a avenida ganhar vida e as
arquibancadas lotarem. E por que não esvaziar, para sambar com os Imperadores,
os Bambas, a Leopoldina, a Restinga, a Praiana, o Império, a Vila do Iapi, a
Samba Puro e todas que desejarem sambar?
Até breve,
Edinho Silva, do
Armazém
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