Viva Zumbi! Cinquentenário do 20 de Novembro
Estive, no início de junho, no lançamento do livro "50
Textos do Cinquentenário do 20 de Novembro", iniciativa da Secretaria
Estadual da Cultura/RS. Solenidade linda e emocionante no Museu Antropológico
(Mars), na minha Porto Alegre. O amigo que me convidou e que também é um dos 50
escritores, me disse dias depois: "Nossa, tu conhecias a maioria dos
convidados ". Sorri ao ouvir isso, pois me deparei com muita gente que
admiro e respeito nessa caminhada, a qual participava mais como espectadora,
até ser provocada, por um outro amigo, a escrever minha primeira crônica de
mulher negra, em 2019. Por que não antes? Porque como dizia meu saudoso
paizinho "antes da hora não é hora " (aí que saudade do meu velho).
Então, quando chegou a hora, escrevi. E foi muito bom. Passei a ler mais sobre
nossa história ancestral e também autores atuais e empoderados.
Mas voltando à obra que teve muitas mãos realizadoras,
apostando nos talentos negros e também não negros que participaram do edital do
governo do estado, digo que o livro é um primor. E aqui cabe um parêntese. Ver
Antônio Carlos Côrtes falando emocionado como um dos membros fundadores do
Grupo Palmares, que juntamente com outros cinco nomes tornou possível fazer do
20 de novembro, data da morte de Zumbi, o dia da Consciência Negra, em
contraponto ao 13 de maio, o tal dia da abolição da "escravatura",
calou fundo em mim. Os outros, outrora jovens sonhadores assim como Côrtes, que
instituíram a data em 1971 são Ilmo da Silva, Vilmar Nunes, Jorge Antônio dos
Santos, Luiz Paulo Assis Santos e o poeta Oliveira Silveira. Sem demérito à
trajetória dos demais, Oliveira Silveira toca meu coração há muito tempo e
marcou sua passagem nessa terra com determinação e convicção na luta pela
igualdade. Somos diferentes e isso não nos faz inferiores. O respeito é o
caminho. Temos que estar sempre atentos, pois o racismo velado está em toda
parte.
Dia desses mesmo, em um programa de televisão na emissora
mais assistida, a apresentadora não hesitou um segundo ao colocar uma bandeja
de cocadas nas mãos da convidada negra dizendo para ela servir os outros
convidados porque afinal ela tinha preparado a iguaria. Racismo estrutural
gritando. Tal atitude fez com que o apresentador negro tomasse a bandeja das
mãos da convidada e ele passou a servir os demais. Chegou a dizer de maneira
delicada que ela não estava ali para servir em um claro "Se toca,
colega". Esse negócio de "não fiz por mal" não serve mais. Olha
eu e os meus parênteses. Voltando à obra, ressalto que foi muito importante
para mim, ler os textos primorosos, merecedores de estarem nesse registro
histórico.
E embalada no que acabei de relatar, destaco trechos do texto
“Cinquentei” de Simone Röhrig: “...Cinquentei, quero ser visto, comemorado, na
televisão, nos terreiros, nos tablados. Que em 20 de novembro, dia da
consciência negra, tenhamos como protagonistas profissionais negros, juízes,
delegados, atores, médicos, filósofos, advogados entre tantas outras
profissões, além daqueles que estão nas periferias e nunca são mencionados...”
- Nas profissões, tomo a liberdade de acrescentar a minha: jornalista.
E por fim, o prazer de ver a filha de Oliveira Silveira,
Naiara Silveira, na solenidade. Mesmo não sendo ela uma das autoras, pedi seu
autógrafo. Uma maneira de ficar mais perto do mestre Oliveira Silveira. E
seguindo o que Côrtes nos convidou a fazer (aliás, ele merece um texto à parte
- único vivo dos fundadores do Grupo
Palmares) ... fechando mais um parêntese, sigo o que nos propôs Côrtes: Ilmo da
Silva, presente; Vilmar Nunes, presente; Oliveira Silveira, presente. E eu
acrescento: Zumbi, presente. Viva o 20 de novembro! 👊🏾
Até a próxima.
Um
beijo da Indaiá Dillenburg
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