21 de set. de 2011

Saudades de um sambista - parte 2



        Como mediador e consultor do Cantakgente recebi a tarefa de estimular o LEF a arregaçar as mangas e comprometer-se mais com os interesses do grupo. Precisava empurrá-lo, captar contratantes, ampliar agenda, enfim envolver-se mais com os interesses da banda. E o cara sempre paciente  afirmava estar no caminho certo. "Nossa hora iria chegar" - afirmava ele convicto. Um tempo depois o grupo reorganizou seus projetos pessoais e abandonou a "carreira artística", mantendo as relações de amizade com o cara.
          Era comum a promoção de reuniões do grupo e a convocação do Leandro para a participação de rodas de samba regada a churrascos. O moço era escalado para trazer o gelo da caipirinha, mas sempre chegava depois da carne assada. Logicamente, sem a encomenda. No mínimo, em 3 edições, teve que rumar às pressas para o postinho mais próximo para recarregar o estoque de cerveja por conta disso. A desculpa era sempre a mesma: "Bah, onde estava não tinha gelo e circulei a cidade toda à procura". Todos sabiam que era lorotinha, mas era impossível não aceitá-lo daquele jeito.
             Para atingir o grau de qualificação dos serviços da Produtora era preciso conter impulsos, projetar grupos novos, distribuir tarefas, pagar os músicos conforme a combinação, investir na credibilidade do, parceiros, distribuir tarefas e misturar “sutilmente” as classes sociais no cenário musical. Como assim? Agregar a imagem e simpatia do asfalto na linha de frente dos grupos à qualidade técnica da periferia na retaguarda (banda de apoio). Isto não é nada fácil. Para o LEF isso foi barbada. Talvez ELE nem tenha percebido, mas todos seus movimentos e ações na noite revolucionaram muitas coisas no cenário do entretenimento jovem. Conseguiu a motivar muitos alunos de escolas de tradicionais e seletas da cidade a batucar e providenciar seus pandeiros, seus cavacos e violões. Instaurando assim um “pagode chique que invadiu alguns espaços nobres da noite da Capital. Apresentou a efervescência das noites de Atlântida e Xangrilá a muito músico notável(?) da periferia. A fórmula era simples: em muitos casos, na linha de frente rostos bonitos e corpos sarados e na retaguarda um balanço e um suingue direto das rodas de samba mais populares da cidade. Testemunhei muita banda de apoio formada por músicos da Restinga e da Bom Jesus garantir o animado balanço dos jovens da Bela Vista e dos Moinhos de Vento. E nesta função o LEF era craque. Administrava vaidades, caprichos, “cachês”, agendas, pseudo-músicos, sambistas tradicionais, seguranças rebeldes, promoters soberbos, etc. Distribuir tarefas, acolher,  negociar valores era com ELE mesmo. Particularmente, tínhamos algumas divergências conceituais, porém o tempo e a disciplinada gestão dos seus negócios mostrou quem tinha razão.
        Quando o Nards compôs o “Voce vai ver, vou fazer e acontecer” deve ter se inspirado em alguma fala do LEF, pois o cara fez e aconteceu mesmo. Dono de casa noturna que desejasse "explodir" sua festa deveria buscar a parceria do Leandro e seu talentoso time. Depois disso já era meio caminho andado e a festa já ganhava forma, mulher bonita, gente alegre, fila na porta e animação. 
          O tempo não pára e infelizmente, não tive o prazer de brindar com café e conhecer as novas instalações da Produtora na companhia dele. Muitos convites foram feitos, porém nossas agendas não encontravam-se. Num dos últimos encontros que tivemos no belo Café Moinhos  confidenciou-me: “Gostou da casa, Edinho?? Tu viu que beleza?? Sou um sujeito de sorte, que coisa linda ter um sócio que alia amizade, bom gosto e fidelidade. Ter um sócio arquiteto é outro papo, né mesmo?? Rimos juntos e brindamos com cerveja gelada.
            Na concorrida despedida do cara, em meio a expressões emocionadas, muitas flores, a mistura de povo (do morro e do asfalto), rostos tristes, duas imagens marcaram: a condução do seu corpo pelos braços dos amigos e a execução de sambas na voz dos presentes. Interpretações emocionantes. 
           Que encontres no outro plano de vida, todas as condições possíveis para uma estadia tranqüila na colônia dos enfermos e a seguir, em outro espaço, os parceiros e as condições para fazer muita ZUEIRA no andar de cima.
            E nós ficamos por aqui com saudades e aguardando os próximos dias da noite pagodeira de Porto Alegre. Afinal, imagino  um cenário em que o brilho do LEF marcou espaços e um outro a partir de sua partida. 
        Enquanto redigia este texto, abri uma cerveja uruguaia bem gelada e ouvi a composição do Jorge Aragão (Moleque atrevido) "Respeite quem pode chegar onde a gente chegou..." tudo isso focado nas lembranças da  tua presença.   

Por Edinho Silva

Um comentário:

  1. Sensacional Edinho, espetacular o artigo... Belas palavras... A falta q esse cara faz , e vai fazer não ta no mapa, nem no gibi... Como ele mesmo gostava de cantar:" Deixa eu entrar no seu mundo, mudar sua vida, ti fazer bem mais feliz..." E foi exatamente o q ele fez, entrou em nossa vidas, de uma maneira brilhante, e fez todo mundo um pouco mais feliz c/ suas festas contagiantes e cheias de magia...Saudades, êê saudades... Forte abraço amigo Edinho e q ELE te acompanhe meu querido amigo Leandro. Assim me despeço.

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