30 de mai. de 2011

Quem é do mar não enjoa



Esta fica na conta da Dona Morena. Dia 01 de fevereiro de um ano que ela não quer nem lembrar, nossa querida titia preparou sua bolsa, os quitutes, ajeitou os "pequenos" e encaminhou-se ao bairro Partenon, direto para terreira de uma amiga sua, Mãe Maria de Oxalá. De lá partiriam 3 ônibus direto para a praia de Tramandaí onde seriam realizados os festejos de Iemanjá. A "dona da casa", Mãe Maria, era uma pessoa muito generosa, acolhedora, mas também muito rígida nos fundamentos religiosos, quanto à postura dos filhos de religião e daqueles que participavam das oferendas e excursões organizadas pela Casa religiosa. Organizou os veículos da seguinte maneira: no primeiro ônibus viajariam os mais velhos membros da "Casa", as oferendas  e os santinhos (quem é do ramo, sabe o que estou falando). No segundo ônibus, os membros mais jovens e as crianças. No terceiro veículo, os convidados, parentes e agregados. Em todos os grupos havia uma regra básica a ser obedecida: "o respeito e a disciplina entre as pessoas e à religião deveria prevalecer SEMPRE". Não foi o que passou na cabeça do nego Mano (Régis, nome de batismo) e sua turma. Pois a galera do terceiro ônibus decidiu  levar escondido da Mãe Maria um isopor cheio de garrafas de bebidas alcoólicas e alguns instrumentos musicais. Bah, maior efervescência. Parecia excursão de time de futebol amador. Turma da pesada: Betinho do pandeiro, o Nado da viola, suas "namoradas", o nego Mano, a Janaína, a Tiquinha, o Kiko, a Pri. Só os furiosos. Antes de partir em direção ao litoral, Mãe Maria reuniu todas as pessoas e expos a importância que tinham as homenagens e  toda a ação de reverência de à rainha do mar. Ouvidos atentos, menos é claro, da turminha do barulho - a do terceiro ônibus.
Ao chegar na praia, por volta das 7h da manhã, as pessoas reuniam-se para tomarem um café coletivo e relaxar um pouco. Segundo Dona Morena, que vinha no primeiro ônibus, quase todos aceitaram o convite, exceto o time do Mano. De forma inconsequente (e cheio de biritas), correram ao mar e jogaram-se sobre as ondas. O Nado era um dos mais entusiasmados e mergulhava a todo momento. Cidinha, uma das filhas de santo de confiança da "Casa" veio reforçar o convite para o café e a pedido da Mãe Maria alertar que Iemanjá precisava ser saudada e homenageada antes dos banhos e do lazer da turma. Caso contrário poderia  zangar-se com tudo aquilo. O pequeno grupo de banhistas nem ligou para o alerta e continuou na fuzarca. Pois num destes mergulhos, o Nado bobeou, abriu a boca e deixou a dentadura cair na água. E quanto mais tentava resgatar, mais o acessório afastava-se. Chegou a aproximar sua mão, mas veio uma grande onda e arrastou um pouco mais. Depois de muitas braçadas, cansado e bastante chateado, desistiu da empreitada. Os "amigos"(?) tentaram ajudar na missão, mas foi em vão. Resignado, o amigo do Mano, Nado da viola, um pouco curado do porre, afirmou: "Tá Mãe das águas, quer levar minha louça?? Pode levar!!". "Sei que pisei na bola, fomos alertados e não respeitei. E agora? Vou voltar para Porto Alegre com o sorriso falhado??".
A notícia logo se espalhou e não se falava em outro assunto até a hora dos rituais religiosos. Após as cerimônias o Nado não foi mais visto por perto. Retornando ao ônibus, somente na hora do retorno. E quem cantou na volta, já que o Nado era um dos que puxava o samba do terceiro ônibus?? Ninguém. Optaram em conversar e dormir na volta, enquanto o moço da dentadura viajava quieto na companhia das crianças no segundo ônibus.
Atualmente, de sorriso novo, o "homi" que não tinha simpatia por religião nenhuma entrou na Igreja evagélica e NUNCA MAIS chegou perto do mar. A dona Morena jura que a história é verdadeira.

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