20 de out. de 2010

Gastronomia italiana e suas variações



E o final de semana da tia Cenira, como foi? Bah, nem gosto de comentar. Toda faceira reuniu alguns casais amigos do Armazém e foi prestigiar mais um galeto dominical de uma Ala de Baianas de uma conhecida Escola de samba da cidade. Os convites anunciavam petiscos na entrada, um delicioso galeto, “ilhota” de massas, buffet de saladas e frutas da época.
Chegando no local a turma custou a achar uma mesa que acomodasse as 14 pessoas do grupo. Depois de algum esforço conseguiram assentos. Tia Cenira estranhou a indiferença com que foram tratados seus amigos, nenhum representante da Agremiação, nem da Ala, tampouco, suas amigas que venderam os convites vieram recepcioná-los. Enfurecida, Tia Cenira foi acalmada pelos amigos e convencida a sentar-se para esperar o “tal banquete” anunciado no convite. Tanto ELA, quanto as amigas foram surpreendidas  com as entradas (com meio salsichão em cada prato servido como petisco). Logo em seguida foi servida o galeto e a massa. Num prato plástico(daqueles de aniversário, manja?), uma porção de massa tipo parafuso com molho pronto de pacote, uma coxa e uma sobrecoxa assadas no ponto (de incêndio, torradas), saladas de tomate e cebola, decorada com uma folha de alface. E as frutas da época? Uma bergamota e uma banana caturra para cada um. Quem quisesse poderia trocar por um laranja.
Tia Cenira, roxa de vergonha, por ter feito um marketing gigantesco do tal almoço, consultou às pressas seu marido, Dr. Totonho, sobre  as finanças do casal. Recebeu um aceno positivo de cabeça. Reuniu toda sua galera e rumou até o Armazém. Lá com a autorização do tio João, o dr. Totonho e o Marquinhos, seu genro,  colocaram o “latão” na calçada e providenciaram um animado churrasco às pressas. Sua mulher, tia Cenira, anunciou que, o churrasco era por conta do casal e o dinheiro do GALETO seria devolvido naquele mesmo momento. Solidários com o casal e com os demais amigos do Armazém, a galera decidiu não aceitar a devolução do pagamento, com uma condição imposta ao Sr. João: comer pão com carne assada, sambar durante a tarde e beber TODA a cerveja gelada do bar. Devidamente pagas pelos clientes.
Para quem iria comer tomate, cebola com coxa e sobrecoxa tostadas a R$15,00, foi muito bom negócio ter acompanhado a Dona Cenira. Não acham??   


Churrasco, bom chimarrão




Dona Morena contou-nos que, na temporada de veraneio de 2001, convenceu seus amigos, tio João e Tianinha a passar uns dias de férias em Tramandaí, a rainha das praias gaúchas. Pois, não só toparam a parada, como procuram um imóvel grande para reunir alguns amigos do trio. Assim teriam companhia e as despesas “rachadas” e, seguramente, férias inesquecíveis.
Após vasculharem imobiliárias locais alugaram um espaçoso apartamento, com garagem e churrasqueira na sacada. “Na medida, mermão!” – como dizia Zeca do surdo, um dos convidados do veraneio. Agregaram-se, ainda, outras pessoas. Festa completa.
No primeiro final de semana da quinzena na praia, foram chamados os amigos Malaquias, o Betão, o Volnei e suas respectivas “negas véias”, Sulamita, comadre Janaína e a tia Lourdes. Samba, boas risadas e churrasco não faltariam. O tio João não quis reservar o salão de festas do prédio. Preferiu recepcionar os amigos com um churrasco na sacada do apartamento locado. O aluguel não foi muito barato e o moço queria aproveitar todos os confortos propriciados pelo imóvel. Com a chegada da turma na sexta-feira à noite, decidiram preparar o assado na tardinha do sábado depois de voltarem da praia.
Na manhã seguinte, calor de quase 30 graus, sol rachando, partiram todos à praia munidos de cadeiras, lanches e guarda-sol, pois passariam a maior parte do tempo nas areias junto ao quiosque do Kiko. Ao longo do dia, muita caipirinha, muito peixe frito e cerveja gelada. E as amigas? Repletas de protetores solares aproveitavam o sol, degustando batidinhas e violinhas fritas.
Os amigos Volnei e Malaquias foram escalados para providenciarem a compra da carne e dos acompanhamentos para o churrasco na tardinha daquele dia. Com o propósito de evitar filas e escolher uma boa mercadoria, partiram para o mercado no centro da cidade, já  no meio da tarde.
Enquanto a galera curtia o sol, os dois amigos percorreram os açougues e mercados de Tramandaí “à procura da picanha perfeita”, como diria Marcelo D2. Providenciadas as carnes, a calabresa, o pãozinho com alho, o carvão e as costelas pretendiam voltar ao apartamento e fazer uma surpresa para o restante da turma. Na volta, sedento por um líquido gelado, Malaquias não se conteve e “forçou” o Volnei a tomar um chopinho na Emancipação. Só um. Tiveram sorte e estavam com tempo de folga para o compromisso com os amigos. Tomaram um em homenagem ao Telê Santana, ao Papa, brindaram ao Roberto Carlos - é ELE mesmo! O homem que não tem Orkut (um milhão de amigos, não é fácil), enfim foram vários canecos. Putz, escorregão geral!
Ao chegarem no apartamento não encontraram ninguém, pois o clima estava muito quente naquele dia, a praia lotada e os amigos decidiram “esticar” um pouco mais. Encorajados pelo chopp, decidiram surpreender os amigos e iniciar a preparação do churrasco. Não era isso o combinado, mas em nome da amizade vale tudo, né??
Enquanto o Volnei espetava as carnes, o “grande” Malaquias preparava o fogo. Bolas de papel, pedaços de madeira, carvão posicionado, algumas doses de álcool para estimular e iniciar o fogo. Palito de fósforo na mão, um pouco afastado da boca da churrasqueira, Malaquias jogou o palito ardendo em chamas dentro da churrasqueira e ficou aguardando. Booom!! Um grande estrondo foi ouvido por todo o prédio. Chamas altas tomaram conta do “equipamento”(churrasqueira). O corajoso Volnei largou os espetos no chão e foi se abrigar atrás de uma coluna próxima ao local do assado. E o Malaquias? Depois do susto, com os braços chamuscados, permanecia assustado com o fogo e com a fumaça que era produzida no interior da churrasqueira.
Neste momento a galera do Armazém, liderada pelo tio João, o locatário do imóvel de veraneio, chegava ao prédio assustado com o grupo de pessoas que se aglomeravam na calçada diante do prédio. Ao ingressarem no apartamento foram surpreendidos pela imensa quantidade de fumaça e pelos olhares assustados dos amigos. O excesso do chopp “na cuca” não permitiu que, os amigos retirassem uma tampa protetora da chaminé. O resultado foi uma verdadeira “nuvem” no apartamento, diante do fogo ateado sem os devidos cuidados. Após o estardalhaço e a abundante fumaça surgiu síndico, bombeiros, vizinhos curiosos, pessoal da imobiliária, um completo tumulto. Por pouco, tio João não interrompeu suas férias.
E o churrasco? Ficou para Porto Alegre, naquela noite os amigos foram em busca de algum crepe de queijo. E os “amigos churrasqueiros”? Foram convidados a voltarem para suas casas logo cedo na manhã seguinte, com suas mulheres revezando-se no volante pela freeway afora.
Eta, chopp bem forte este!!
                          

19 de out. de 2010

Entre maçãs e abacaxis na avenida

Tianinha nos conta que, num Carnaval no final dos anos 90, ainda na avenida Perimetral, durante um desfile de uma modesta, mas entusiasmada Escola de Samba da zona Sul de Porto Alegre, ocorreu um fato “ligeiramente” inusitado. O tema enredo referia-se a um Brasil Tropical e suas riquezas naturais. Trazia na ocasião, muito samba no pé, fantasias humildes, porém, a alegria nos rostos. O entusiasmo era geral. Infelizmente, não havia a previsão de carro alegórico durante o desfile, mas sim alegorias com vegetação e muitas frutas tropicais.  Numa delas, a maior na verdade, a Diretoria da Escola trazia um volume grande de frutas, obrigando um esforço maior por parte dos colaboradores para empurrá-la (ou conduzir como queiram). Eram cinco corajosos e musculosos jovens da comunidade, os responsáveis pela condução do tal carro de frutas – o Colosso Tropical. Tão logo, a Escola adentrou na avenida a notícia do extravio do dinheiro do pagamento dos profissionais e operários espalhou-se. Inquietação geral, principalmente, entre os “suados” empurradores da destacada alegoria. Coisa muita séria. Alguns queriam largar a tarefa no meio da avenida, outros não acreditavam na notícia e poucos decidiram conduzir até o final a alegoria. Aliás, estes convenceram os demais a dar seguimento à tarefa em respeito ao esforçado Diretor de Carnaval. Se fossem pensar no Presidente e na primeira dama perderiam a cabeça e largariam a tarefa.

E lá seguiu a agremiação carnavalesca, a alegoria e o grupo para enfrentar os 40 minutos de avenida fingindo alegria e disfarçando o constrangimento. Trabalhar de graça, nem relógio, né mesmo? Desconsolado e furioso, o nego Jorjão não se conteve e atracou alguns cachos de uva. Os demais acharam a idéia razoável e enquanto empurravam se deliciavam com pêssegos, ameixas, bergamotas, bananas, morangos. A tristeza deu lugar à folia. E o resultado disso? Quando tal alegoria chegou ao palanque ainda restavam uma melancia (filha única), alguns poucos melões e dois abacaxis. Acreditem, Tianinha jura “de pés juntos” que, as frutas que sobraram para o julgamento dos jurados, não rendia uma salada de frutas para três pessoas.                                                                       

O presidente da Escola e a primeira dama até tentaram cobrar postura do quinteto, porém o ensaiador de bateria sugeriu que, ambos embarcassem num táxi e tirasse umas “férias” da vila.

Putz, literalmente, que baita abacaxi, hein?

Vozes caladas

     

Oportunismo, vaidades ou falta de bom senso? Bradava, nosso amigo Zeca do surdo,  sentado à  uma das mesas do Armazém. Nosso “sambista polêmico”  apresentava seu desconforto em relação aos Festivais de Sambas Enredo que acontecem em nossa Porto Alegre. Num desabafo triste, emocionado e enfurecido, Zeca afirmava não entender a razão que motiva as Diretorias das Escolas de Samba permitirem  a participação de intérpretes das Agremiações co-irmãs nos concursos que elegem os sambas enredos de suas escolas.
Por exemplo, “Joãozinho da  Silva”, o melhor intérprete da Cidade, famoso por levantar as arquibancadas  no dia do desfile, com seu ritmo quente, no melhor estilo Sapucaí,  é um dos melhores cachês da festa popular do Estado. Certo? Justíssimo, mas o que deixa Zeca maluco é o que, vem se repetindo ano após ano. O “passe artístico” do moço é leiloado sempre ao final de cada desfile e muito disputado no mercado de destaques do Carnaval do ano seguinte. Indignado,  Zeca do surdo,  busca razões para entender POR  QUE os dirigentes permitem sua participação no Festival? Em muitos casos o titular da sua entidade, sequer poderia participar da harmonia do premiadíssimo  Joãozinho. Então por que constrangê-lo 6 meses antes??
Segundo ELE,  se o Dirigente não consegue “bancar” o cachê do melhor,  parte para os planos B, C e, em alguns casos, uma outra alternativa. Certo? Sim. De fato o sujeito que acabou sendo a opção de alternativa, acaba vendo um samba enredo composto e interpretado de uma forma completamente diferente da sua. Expondo-o diante de sua comunidade e de suas próprias limitações. Com isso, todos aqueles intérpretes, do chamado segundo escalão, ou ficam sem oportunidades – acabam transformados eternamente em SEGUNDA VOZ  do Carnaval, ou desistem depois de alguns desfiles. O compadre Zeca, não perdoa: “Pô, os caras jogam contra o próprio patrimônio, mermão!!”, “ Se o titular da Escola é de nível médio, como vão dar moral para o bambam da outra? Né, meeesmo?, complementa com seu carioquês  gaudério. E continua - ”O malandro canta na outra no dia principal e ainda vai no festival e TOMA o maior prêmio. Assim constrange nosso canário...Bah, tenha paciência, pô!!”.
O tio João do Brasil, a dona Morena, Tianinha e uma galera do samba acompanham o Zeca no raciocínio. Segundo ELES, “é tiro no pé” e embora estejam afastados do Carnaval por razões diversas, permitem-se propor a reflexão. Dr. Totonho aprova o protesto e acrescenta: “Meus senhores e senhoras, ainda se fossem como atração da noite (shows especiais), a preservação das pessoas estaria assegurada” – sentencia.
E agora?