15 de jul. de 2022

Por que as rodas de samba tocam as mesmas músicas??

 


                                        Imagem de roda samba - acervo público

Posentão...

Outro dia conversava com amigos músicos da noite sobre uma triste constatação que fiz ouvindo relatos de quem prestigia as rodas de samba e bailes por Porto Alegre. "Puxei uma conversa" para refletirmos sobre algo que me entristece como costumaz defensor das manifestações populares e rodas de samba como "ações de entretenimento, cultura e convívio social".

Por que com tantas formações experientes, com músicos de reconhecido talento, diferenciada técnica e experiência para "dar aula" na execução das músicas mantem por anos a fio, os mesmos repertórios? Passa semana, chega o sábado, entra o salário, sai salário, agenda na estética, rola contatinhos, baldes de plástico nas mesas, bebidas geladas e o repertório das bandas, dos cantores e cantoras permanecem os mesmos?

Seria "comodismo" dos grupos em ensaiar novos hits??  Fragilidade nas lideranças das bandas?? Escassez de novos "sucessos"?? Preguiça de arriscar executar novas músicas?? Medo de propor novidades em relação às músicas tocadas?? Medo de aprofundar as pesquisas musicais?? O temor de encarar os contratantes com  novas propostas de repertório?? Na oportunidade, muitas respostas surgiram...diferentes, aliás.

Alguns garantiam que os fatores não são poucos, que iam desde a aceitação do público que não estaria habituado a ouvir músicas dos mesmos compositores e cantores/as serem executados com outras melodias. Sinceramente, algo me sugere que há muito COMODISMO, como muita coisa na vida. Não posso acreditar que, um disco/cd com uma dúzia de faixas possa conter ou representar APENAS UMA que tocou nas rádios ou caiu na boca do povo, por intermédio de programas televisivos.`É MUITO POUCO e, sinceramente, desrespeitoso com a obra autoral do/a artista.

Por exemplo: os djs sabem que se a pista está esvaziando e ELE encontrar o hit do Tim Maia que diz "...não quero dinheiro e só quero amar..." o salão lota novamente. Sinceramente, acho que a pesquisa do profissional foi fraca, afinal a "obra dançante" do falecido Sebastião Maia é robusta demais.

No gênero do samba cito alguns compositores como Almir Guineto, Reinaldo, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Leci e outros tantos. Todos  os citados e citadas possuem MARAVILHOSAS COLETÂNEAS de sucessos em sua biografia. Alguns intérpretes e outros compondo, inclusive. Não há roda de samba que não cante os sambas: Conselho (Guineto), Deixa a vida me levar (Zeca), Retrato cantado do nosso amor(Reinaldo), Vou festejar (Aragão) interpretado pela Beth e Zé do caroço (com a Leci), para citar apenas alguns. Não, né?? Cada um dos citados e citadas possuem no mínimo, algumas dezenas de obras na sua conta.

Então, sinceramente...pode ser medo de ser rejeitado pelo contratante e pelo público e a tímida disposição em aprofundar-se nas obras dos caras...E como resumiria isso?? Investem no entretenimento e não na Cultura que isto representa.

Tenho dito....  

12 de jul. de 2022

Roda de samba "de grife" - "Os brasileiros" e alguns convidados e convidadas especiais

 

                                                           acervo pessoal do Armazém

            Outro dia, um reconhecido músico e sambista de Porto Alegre registrou uma inquietação que aborrece bastante. O relato denunciava a participação de sambistas, músicos e ritmistas, em diferentes estágios de aprendizado. Ou seja, iniciou a tocar outro dia e já quer chegar na roda e dar seu recado.

            Tenho múltiplas opiniões sobre o tema. Alguns e algumas diriam que, por não tocar nenhum instrumento "não tenho o lugar de fala". Discordo, veementemente, afinal não são todos os dias que cruzamos os caminhos de astronautas, né mesmo?? Porém, em muitas oportunidades ouve-se falar em astros, planetas, estrelas e por aí vai.

            Opino, sim, ancorado na defesa que faço constantemente à Cultura Popular, manifestações e folclores, Brasilidades, ritmos, samba, gente e uma porção de outras coisas. Mas afinal, por que as rodas de samba da Cidade (aliás,  escassas...) reunem tantos sambistas com seus instrumentos?? A queixa é de que quando tem muita gente, não há um filtro de quem sabe tocar e quem não sabe.

            Surgem algumas questões a serem consideradas: A roda de samba não deve ser uma manifestação pública, livre e democrática?? Sim. E por que a reclamação em relação a quem sabe tocar ou não?? Parece difícil...mas os atuais tempos em que vivemos permitiram (ou permitem) que as pessoas não utilizem o "filtro do critério" de conhecimentos. Certamente, o violão sete cordas não precisa ser um Paulão da Vida ou Nelson Cavaquinho ou o carinha do pandeiro, ser o Bira Presidente ou Nereu, do Trio Mocotó, né?? Mas é obrigatório ser "um meia boca arrumadinho", para não estragar a roda.

            Particularmente, como expectador, fã e simpatizante "as ganhas" acho que uma roda precisaria ter alguns critérios acordados. Ou seja, todos pode tocar, entretanto, o "samba fica redondo" se tiver um pandeiro, um cavaquinho, um violão, um surdo, um tantan e percussão geral. Se acaso tiver dois ou tres cavaquinhos, meia dúzia de pandeiros, rebolos, surdos, tamborins e afins, os cantos "atravessam". E como??

            Será que uma boa solução não seria uma reorganização nestas ações? Assim a roda de samba do barzinho da Zona Sul estará movimentada com 6 integrantes no comando do samba. O resto do povo, vem nas cantorias. Os músicos que sobraram (ou que excederam o número tolerável), armariam uma outra roda ou perto ou distante dali.

        "Tá Edinho, mas o "povo que chega junto para cantar e tocar", também toma umas geladas na conta dos que estão tocando há mais tempo?? Daí é cara de pau mesmo...Uma coisa é tocar por 3 horas, a fio, sem cachê e nem ajuda de custo, sem ganhar algumas moedas, umas cervejinhas ou uns petiscos? É justo.

        Nem sei muito bem o que penso sobre aqueles que chegam na metade da função, "atravessam o samba", tocam errado e dão umas "bicadas" nos copos alheios. Putz!! "Medalha de cara de pau..."Total!!

        O lance é o seguinte...tempos malucos estes que vivemos. Certamente, ao levantarmos esta discussão não faltará que reivindique seu direito livre de manifestação. "Agora não posso tocar meu instrumento na roda de samba dos meus amigos?" Se estás no início da carreira de músico (na fase inicial de aprendizado), por favor não atrapalhe. Ouça, cante, faça "teu comercial na palma da mão". Compre tua cerveja, se não tem grana? Identifique algum conhecido e negocie alguma coisa do tipo: "nesta semana EU não tenho, na outra é comigo..". Mas volte, né?? Ficar percorrendo a cidade com o case nas mãos e muita sede, não eras...  

                                                                                            Edinho Silva

"Caixa vermelha" do Armazém do seu Brasil - a boa música autoral sob os cuidados do "Trago coisas novas

 

                                                                           Imagem: Acervo pessoal


            Posentão...

            Quando caminhamos na mesma direção e por estradas afins as coisas ficam mais fáceis. Assim foi e tem sido todas as propostas da parceria e ESCAMBO CULTURAL entre o Armazém do seu Brasil e o Espaço "Trago boas novas".

            Há algum tempo, compositores e compositoras gaúchas transitam e participam de nossas ações culturais e de "troca de saberes". Costumamos difundir, potencializar, compartilhar e "fazer barulho" com o material que nos chega.

            Dessa forma, estamos disponibilizando a "caixa vermelha" do Armazém que ficará nas prateleiras e espaços do "Trago" contendo produções autorais dos parceiros. Quais serão eles, neste primeiro momento? Carlinhos Presidente, Rogério Pereira e Bira Mattos.

            Aqueles e aquelas que nos acompanham, assim como fazem com os trabalhos dos artistas citados, poderão adquirir Cds e Eps a preços bastante justos. Apareça e confira outras manifestações artísticas expostas no espaço.

            Super recomendo....\0/\0\/\0\/\0\/\0\/  

 

11 de jul. de 2022

Música, alimento para a alma - por Indaia Dillenburg

                                             Imagem: Diário de Pernambuco 

Eu sempre tive um fascínio por programa de calouros. Sentia-me parte dos jurados, comentando com propriedade sobre os artistas que se apresentavam. E sempre fui boa nessa parada. Pois além de ter um ouvido ótimo para detectar a mínima derrapada vocal de quem se apresentava, também sempre sabia o nome do autor das composições. Aprendi com meu pai.

Ele sempre nos dizia que o cantor não era nada sem uma composição. É claro que ele falava de boas composições. Hoje em dia, até as péssimas podem alçar um artista à fama. Mas não é disso que eu quero falar. Quero falar de música boa. E música boa é o que sempre fez esse cara com seus parceiros de ouro. Estou falando de Aldir Blanc, que nos deixou de maneira precoce por conta de um vírus que tirou tanta gente desse mundo. Pois bem, Aldir está em um lindo projeto pensado pelo comandante do Armazém do Seu Brasil, nosso querido e necessário, Edinho Silva.

Falar sobre o projeto e os envolvidos, deixo para ele. Eu me reservo o direito de comentar sobre lindas composições feitas por esse gênio. Vou começar por algumas canções que ele compôs em dupla com outra fera, o João Bosco.

Começo pela minha preferida: Corsário, composição dos dois. Amo com Elis Regina, mas não amo menos com João Bosco. E não para por aí. Eles juntos fizeram muita coisa linda, espia só: Latin Lover, só amo: “Nos dissemos, que o começo é sempre, sempre inesquecível/E no entanto, meu amor, que coisa incrível, esqueci nosso começo inesquecível...”. Tem também Dois pra, lá dois pra cá, que é uma das minhas preferidas, passando pela canção Me dá a penúltima, olha esse trecho: “Todo boêmio é feliz, porque quanto mais triste, se ilude...”. De frente pro crime, “Tá lá o corpo estendido no chão....”. Tem também Metre Sala dos Mares e O Bêbado e a Equilibrista, todas lindas parcerias com João Bosco.

E o que falar de Vida Noturna, a última da lista que cito dele e de João Bosco? Amo a gravação do João, mas tem também a do Nelson Gonçalves, aliás, foi o pai que me apresentou essa maravilha de canção na voz do Nelson. Meu velho Barthô e seu ouvido absoluto.

    Aí pulo para outro parceiro de ouro do Aldir, o Maurício Tapajós. Com ele destaco duas lindas canções: Flores de Lapela, uma preciosidade que Aldir gravou no álbum Vida Noturna. “Se o amor anda ausente, o armário só guarda uma escova de dente...”. Seguida por Querelas do Brasil: “O Brasil não conhece o Brazil....”, conheci na voz de Elis, agora quero ouvir na voz da minha estrela, (ops...nossa, né, Edinho?) Guaíra Soares.

Aldir tem muitas lindas canções e parceiros bárbaros. Deixei para o fim, a música que conheci na voz de Nana Caymmi, estrela cujo repertório sempre quis que Guaíra cantasse. Estou falando de Resposta ao Tempo, de Aldir com Cristóvão Bastos. Já ouvi Guaíra cantando. Di-vi-na. E confesso que me arrepiei ao ouvir na voz do próprio Aldir. Simplesmente maravilhoso!!!!

Tenho uma admiração muito grande por quem tem capacidade de compor. E semana que vem vou falar sobre outra linda compositora que faz parte do projeto do Armazém do Seu Brasil.

Mas falar sobre essa maravilha que está por chegar, é com o Edinho.

Eu vou ficando por aqui, louca que chegue a semana que vem.


                                        Um beijo da Indaiá Dillenburg