14 de out. de 2010

Mais um amigo do Armazém e seu virtuoso instrumento - Rogério Sete Cordas

 Tia Cenira, esposa zelosa e atenta às coisas boas da terrinha, segue os passos do marido Dr. Totonho e nos traz como dica cultural da semana o trabalho autoral de mais um amigo do Armazém.
Rogério 7 Cordas, cercado de amigos (Claudio Barulho, Cassio Luiz, nego Edu, Ari ernando, Claudia Barulho, Edivaldo e seu paizão "tio Paulo") apresenta "Encontro de paz" - uma variada seleção de sambas bacanas como há muito não se ouvia. O casal Totonho & Cenira, mais toda galera do Armazém recomendam.
Contatos para shows e performances culturais: (51) 3336-3351

http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=10397012622351567089

12 de out. de 2010

Olha o embaixador carioca, aí gente!!!

O embaixador carioca do Armazém,  cavaquinista dos bons, o gaúcho Carlinhos Delgado faz um convite aos amigos do blog. Ao visitarem a Cidade Marvilhosa,  não deixem de fora a noite da Lapa e todos seus atrativos culturais. Ele os aguarda no Bar Funil, rua Gomes Freire, 226 – Lapa.
Segundo ELE, o samba por lá rola solto como nas boas rodas do seu Itinerantes do coração. 

Loiras geladas

   




Tio João, entre risos e indignações nos conta que, o Marcelão um dos cavaquinistas das animadas rodas de samba da galera do Armazém, é “ligeiramente traíra” nas questões que envolvam cervejas. Principalmente, quando a turma combina um rateio para comprar “as loiras”. O virtuoso músico chega no samba sempre depois da “vaquinha” ter sido organizada e dependendo da cerveja comprada, ELE inventa uma desculpa e não toma. Afirma que, algumas marcas causam a ele, dores de cabeça e diarréia.
Pois, no aniversário de 15 anos da Lalinha, uma das netas do Dr. Totonho e da Dona Cenira, além da comilança, do dj, das bebidinhas e da decoração apropriada para o evento, estava prevista uma grande roda de samba. A banda do Armazém (amigos dos avós da jovem)   foi escalada e como presente ofertariam a cerveja da festa. O Luquinha e o Dinho do violão, foram “nomeados” para arrecadar o dinheiro e comprar as tais “loiras geladas”. Gulosos por umas bebidinhas, aproveitaram algumas ofertas oferecidas nos mercados locais de uma marca de cerveja(não tão premiada assim) e compraram MUITAS garrafas. Acrescentaram às compras muitos sacos de gelo para acondicionarem  as garrafas nos tanques reservados para tal fim.
Ao chegarem na festa com as bebidas, o anfitrião Dr. Totonho espantou-se, pois a marca trazida era uma das que causava problemas no Marcelão, o cavaco da banda. O Dinho, de forma franca e direta, afirmou: “Não se preocupe, tio Totonho, o Marcelão não foi achado para participar do rateio”. E acrescentou: ”Aliás, as cervejas estarão tão geladas e sem rótulos que, ELE nem perceberá que marca de cerveja foi comprada”. Com a festa em andamento os rótulos das garrafas foram soltando-se, confirmando o que havia anunciado o Dinho. e com isso ninguém mais sabia qual marca era a consumida.
No meio da festa, galera animada, bebendo TODAS, chega o Marcelão, com sua pastinha de músicas e seu cavaco. Aproximou-se da roda, plugou seu intrumento e saiu “lascando samba”. Em seguida, alcançaram-lhe um caneco de cerveja. Dois canecos. Três canecos.  Era um samba, uma cerveja, dois sambas, duas cervejas. Uma beleza de festa, a galera sambando e ninguém parado.  O Cassinho, inicialmente, dividia as cantorias com o Marcelão, que aos poucos tomou conta do microfone, transformando-se no dono da noite. Cantou todos os sambas do Roberto Ribeiro, Fundo de Quintal e a coleção completa do  Jorge Aragão. Já com o sol forte e os relógios anunciando 7h30minutos da manhã de domingo, ou seja, no  dia seguinte ao aniversário, os músicos foram silenciando seus instrumentos. E o Marcelão? Caído na grama, perto da piscina do dr. Totonho, abraçado ao cavaquinho e “lotado” de cervejas – completamente alcoolizado. Um dos sobrinhos do anfitrião, avesso à bebidas, fazia a “tele-entrega” dos bebuns, entre estes o Marcelão.
Lá pelas 20h de domingo, o preocupado Dr. Totonho telefonou para a casa do Marcelão para saber se o mesmo havia tido dores de cabeça ou “amolecido suas fezes” como sempre acontecia, segundo o próprio sambista afirmava. Pelo menos era esta justificativa que dava  quando convocado a contribuir. O Dr. Totonho foi supreendido pelo Marcelão, quando este respondeu de forma tranquila: “Mestre, que festão, hein?”. “Tudo classe A, comi bem, batuquei com a rapaziada, bebi todas, fui levado até em casa, dormi até às 14h e depois me mandei para o Beira-rio assistir o nosso Colorado”. “Festa maravilhosa, estou pronto para outra” – afirmou o cavaquinista. O dr. Totonho sempre diplomático ouviu e agradeceu sua participação na roda de samba de sua neta. Mas intimamente, sentiu-se desconfortável com tais respostas, pois não imaginaria ouvir tal declaração. Afinal, o amigo sempre justificou a impossibilidade de ingerir tal marca. Os outros amigos alertavam: “Meu caro Totonho, é migué do moço”, afirmava Tio João.
Sentou ao computador e redigiu um documento sugerindo aos parceiros de batucada a “preservação” do Marcelão dos próximos encontros da turma do Armazém. Segundo ELE, a amizade não deve ser ameaçada por traços de esperteza. Registrou em letras garrafais que, estava desapontado com o moço, pois afinal quando tem que colaborar com algum trocado “a cabeça do malandro dói, o cocô fica mole, dores de barriga aparecem”. Assim não dá, registrou. “Quando é de graça, TUDO se transforma em suco natural”. O dr. Totonho, saiu da gravata e das abotoaduras e apresentou seus argumentos para preservar de suas festas e dos encontros da turma do Armazém.
Novos cavaquinhos foram agregados à  roda do Armazém e, quanto, ao Marcelão, até os dias de hoje tá  indo, ou no dia errado ou em local desconhecido nos pagodes da turma. Acredita-se que, ninguém falou a verdade para ELE sobre a gafe na casa do “doutor”.  Perguntei ao Zeca do surdo se ELE achava justa a punição e recebi como resposta: “Malandro conheci dois: Mestre Marçal e Bezerra da Silva – o resto é aprendiz, mermão!!!”

11 de out. de 2010

Sob os olhos da Santinha

       Dona Morena, tomou coragem e algum tempo depois de perder seu grande amor, o tio Dionísio, permitiu-se conhecer uma outra pessoa. A convite dos amigos, João do Brasil, Tianinha, Zeca do Surdo e mais alguns casais, Dona Morena vestiu seu melhor vestido, maquiou-se e caiu no samba em pleno Areal da Baronesa. Coisa boa, batucada ritmada, cavacos e violões afinados, sambistas respeitosos, ambiente seleto. Tudo rolava legal na maior harmonia.

 Na roda de samba, um mulato alto e forte destacava-se pelos balanços e a graça de seus movimentos – era o seu Tide (Tidão para os mais chegados e colegas do Cais do Porto). Portuário nas horas de labuta, homem sério, respeitador e dono de uma voz grave no partido alto. E quais eram os atributos que mais chamava a atenção da nossa amiga? O moço era descompromissado. Pelo menos era o que todos pensavam.
Rodavam a cidade em busca de um bom pagode e diferentes rodas de samba. Sambavam e namoravam como dois adolescentes. Participavam ativamente de eventos sociais depois de apresentados às famílias. Os três filhos da Dona Morena aprovaram o namoro da mãe. Viviam um conto de fadas.
Como fazia todos os anos, Dona Morena repetiu o que fazia anualmente no mês de fevereiro. Participava ativamente da tradicional  procissão de Nossa Senhora dos Navegantes, onde cumpria promessa com o Júnior(5 anos), seu filho mais novo, todo vestido de anjinho. Desta vez, apaixonada decidiu convidar o seu Tidão (quem sabe a santinha não abençoava a relação também?). O namorado topou na hora, pois depois almoçariam por lá, comeriam melancias e se divertiriam no Império da Zona Norte.
O Tidão, todo charmoso, decidiu fazer um agrado para namorada e providenciou um par de asas para ELE também. E por boa parte do trajeto conduziu o pequeno Júnior no colo, enquanto acompanhavam o cortejo. A alguns metros da praça principal e da celebração da esperada missa, o simpático Tidão foi surpreendido por uma “bolsada” na cabeça, seguida de bofetadas no rosto e uma dúzia de xingamentos: “Te peguei, seu danado!”, “Seu cachorro nojento, carregando teu filho caçula, né?”, “Então é aqui que você vai descarregar o navio de Rio Grande, seu vagabundo?”, “Até asas colocou nas costas para carregar o filho, seu bosta adúltero!”. Pois a responsável pela gritaria era uma senhora de porte físico avantajado que, surgiu entre as bancas de velas, acompanhadas de  mais duas jovens(grandes também). Quem eram? A esposa oficial e as duas filhas do Tidão. Nem as asas do sr. Aristides sobraram em meio à pancadaria. O “mulatão”, ligeiramente machucado, saiu em disparada em meio ao povo religioso. Deixando o garoto, a mulata namorada e as asas brancas para trás. Tudo sob o olhar maternal da Nossa Senhora dos Navegantes que, observava  com olhos de mãe, toda aquela  confusão.
A dona Morena acompanha a procissão até os dias de hoje, porém sem nunca mais ter avistado o “charmoso” Tidão, que não voltou à casa da namorada, nem para buscar a camiseta do seu Xavante e sua bermuda jeans, a peça de roupa preferida do seu armário.      

surdo triste














“...Meu surdo, velho amigo e companheiro
Da avenida e do terreiro
Da roda de samba e de solidão,
Não deixe que eu, vencido de cansaço
Me descuide desse abraço
E desfaça o compasso do passo
Do meu coração...”
              Totonho/Paulinho Rezende              
                 
            Na estréia do Armazém do seu Brasil, relato uma história protagonizada por um amigo do filho mais velho do tio João, o Nanato. No início dos anos 90, era  comum  esportistas e sambistas invadirem o Parque Gigante – área social do S. C. Internacional. Em meio a uma legião de colorados, havia alguns gremistas “disfarçados”  que, para não ficar de fora das festanças acabavam associando-se também por lá. Qual a razão? As animadas reuniões nas churrasqueiras coletivas, as “famosas Senzalas”  que,  reuniam uma galera bem significativa ao redor de um bom churrasco, cervejas geladas, amigos  e um samba cadenciado.
            Naquela época no Centro da Cidade haviam muitos bares com música ao vivo(samba, exclusivamente). O El Bodegon, era um deles. Todas as sextas-feiras, o grupo Samba Quente agitava o salão com muita batucada legal. Dos instrumentos envolvidos havia um que se destacava: era o surdo do Dadinho – Osvaldo Fraga da Rosa.
Pois, o tio João nos conta que, armou uma churrascada com samba no Parque Gigante que estariam presentes seus amigos  e os do Nanato, seu filho. Muitos sócios do clube  e outros nem tanto. Entre eles,  o alegre  e  simpático nego Dado.  Na ocasião ficou combinado que, os convidados não sócios ingressariam nas dependências do clube pelo portão do estacionamento e com o conhecimento do responsável pela segurança. Amigão da galera da “senzala”, como eram conhecidas as churrasqueiras coletivas do espaço social. Acertado  o horário e os detalhes da função  era só chegar bem cedo no local, preparar os espetos, colocar as cervejas no isopor e aguardar o início da fuzarca.
No domingo combinado, lá se foi o Tio João, Tianinha, alguns amigos – entre eles, o festeiro Zeca do surdo – direto da boemia, bem cedo reservar as tais churrasqueiras. A manhã ensolarada, colaborava e aos poucos chegavam os associados, o colorado Dr. Totonho  e sua nega véia, dona Cenira, mais alguns amigos e familiares e no portão dos veículos, conforme a combinação, a turma dos “sem mensalidades e sem carteiras” ingressavam de forma rápida e discreta.
Lá pelas 11h da manhã, a turma do tio João avista de longe, um negro sorridente, carregando um belo e enorme surdo sobre a cabeça, acompanhado por sua mulher, adentrando no portão principal dos sócios do Parque. Confusão geral, pois o mesmo não pertencia ao quadro social e insistia em entrar. Afirmava que, seus amigos já estavam lá e ELE iria entrar de qualquer jeito. Era o simpático Dadinho que, havia armado a maior confusão. O responsável pela segurança desapareceu em meio ao tumulto. “Sururu” formado e o nosso convidado que errou o portão não tirava o surdo da cabeça. O tio João foi chamado e tentou intervir para tentar solucionar a situação. Quando ainda sob o efeito de muito drinque da madrugada, nosso querido Dadinho, pediu a atenção e lascou uma pérola – “E se EU entrasse, comesse uma costela, tomasse uma gelada, abraçasse alguns amigos e tocasse dois sambinhas em 30 minutos?”. Sem cerimônias, afirmou: “Prometo voltar na segunda-feira, afinal sou colorado, vou direto na secretaria social do clube e comprarei um título para repetir a festança na outra semana!”. Perplexidade de todos e gargalhadas gerais. 
Foi permitida a entrada do moço e registrada a tal promessa. Para alegria de muita gente presente naquele dia no Parque Gigante, a batucada teve início depois do almoço e  invadiu a noite ao som de vários intrumentos, com destaque para o vibrante surdo do Dadinho, que só saiu do espaço colorado, altas horas daquele dia. E a carteirinha e o título de sócio do moço? Até hoje,  Dona Morena, amiga do Armazém e outros sócios do clube, não tem certeza se o Osvaldo associou-se no Parque. Pelo menos, nos 3 meses que se sucederam ao episódio, nunca mais foi visto por lá.

Dadinho: Que a certeza de nosso reencontro possa nos trazer boas lembranças tuas.


* O Dadinho despediu-se deste plano de vida após concluir uma prova de capacitação física admissional dos Correios e Telégrafos, em plena Redenção.