6 de jun. de 2014

Samba e amizade – uma conversa "olho no olho"


 

               A forma de aproximação a este moço foi pra lá de inusitada. Numa disputa de uma partida de futsal. Eu arbitrando e ELE defendendo a equipe tricolor no Grenal entre amigos. De quem estou falando?? José Carlos de Oliveira, ou o Zé do banjo, ou até mesmo o Zé "olho no olho". 
  
 
           A noite da tal partida, o cara destacou-se pelas jogadas de efeito e pelos gols marcados na zona do "agrião". Digo "na pescaria". Depois de muito deboche sobre os colorados, o Zé nem esperou o churrasco ficar pronto. Mal tinha terminado a partida, o "carinha" apanhou sua bolsa e saiu disparando para um outro compromisso inadiável. Uma roda de samba com outros amigos. Depois da família o que mais entusiasma o Zé do banjo? Uma boa e animada roda de samba entre amigos, algumas "bem geladas", costela gorda, bate papo e coisa do gênero.

          Sujeito simples, gremistão, de bom papo , comprometido com o trabalho e com solidariedade com seus pares, cumplicidade com sua família e muitas energias nos seus laços de amizade. É capaz de ofertar um brinde e um abraço a um amigo colorado, mesmo com a derrota do seu Grêmio. Por que?? Pelo jeito afetuoso com que trata seus pares. Testemunhei inúmeras vezes, ao lado do parceiro Samuka Guedes nas rodas de samba do extinto Pagode do Andaraí, onde eram recebidos crianças, senhoras, senhores, vozinhos, brancos, pretos, amarelos e quem quissesse chegar em nome de um bom samba e boas energias. Em movimentos como este onde todos chegam, tocam e cantam numa "mistura do bem" pra lá de especial. Bem no estilo Martinho da Vila e sua "Casa de bamba", onde todo mundo bebe e todo mundo samba.
           Ainda adolescente, com 16 anos de idade, inspirado por um vizinho que andava para todos os lados com seu violão começou sua história na música ouvindo com seu pai os clássicos de Jamelão, Noite Ilustrada, Silvio Caldas, Lupi, Nelson Gonçalves, Demonios da Garoa, entre outros classicos. Com esta mesma idade comprou seu primeiro violão e um pacote de livrinhos com partituras e dicas de como tocar. Sua mãe, dona Andresa muita vezes contribuiu com seu assobio a encontrar o tom certo dos sambas do filho sambista. Numa noite de setembro, já maiorzinho, decidiu ir até o bar Chão de estrelas. Chegando lá, deparou-se com "Chico Queixada", um cavaquinista dos bons conhecido nas rodas de Porto Alegre. O "homi" ficou espantado ao ver o senhor do cavaquinho tocar quase cochilando encostado na parede (quase dormindo), fazendo malabarismos com os dedos e as cordas. Saiu impactado e correu para algumas aulas com outra fera do samba e do choro da Cidade, o generoso Lúcio do cavaco (já falecido).
             Um dedo quebrado e mal curado, apresentou um outro instrumento ao Zé Oliveira. Por ter caracteristicas diferentes de um cavaco, que exige mais técnica para ser tocado, o banjo foi ocupando espaços na vida do "Olho no olho". E assim, adotou o instrumento como seu "fiel" por todos os lugares por onde passou. Dos muitos amigos (e seus banjos) que fez nas andanças, guarda um especial carinho o convivio com o Pedro Natel - Pedrão- do extinto grupo Bom Ambiente. Atualmente, nosso personagem "sacode" as tardes de sábado na companhia do Paulinho do Banjo e de todos os amigos que quiserem chegar na Casa do Cachorro, na Cidade Baixa. É por lá, que o senhor Ciríaco, receb o Zé e quem quiser chegar. Duvidei um pouco e perguntei ao Zé: "Meu caro, tenho um amigo que ganhou uma cuica de presente e gostaria muito de fazer um samba lá no tua roda. A do Cachorro. Seria possível?? O cara respondeu prontamente: "Mas é óbvio, Edinho. Pode chegar com força, sem bater na porta. O samba possui linguagem universal e todos são acolhidos. Da percussão mais ousada, o metal mais bonito, das cordas mais afinadas. Vale tudo!! Outro dia, até um "indio paraguaio" fez samba conosco ao som do seu instrumento de bambu". Falei pouco?? Falei, nada...O Zé Oliveira tem história para uns 3 Costelões 12 horas e muitas geladas.
 
Era isso. Simples, como um banjo afinado.
 
Edinho Silva

4 de jun. de 2014

Meus amigos gordos



Meu passeio favorito
                Muita gente não gosta de visitar o  lugar onde moram os “bichinhos da floresta”. Eu adoro. Sabe que lugar é este?? O Jardim Zoológico. Eu já fui lá umas 3 vezes: com minhas tias, com o colégio e com o pessoal da Igreja. Gosto de tudo, mas o que mais me atrai é o espaço onde ficam os elefantes. Aqueles bichos enormes e “gordos” que brincam, se acariciam, chegam perto uns dos outros e acredito até que, se tivessem ou se pudessem trocar abraços, o fariam. Abraço. Coisa bem boa, abraçar e ser abraçado. Eu adoro receber abraço. E vocês??
                Depois que meus pais se separaram,  minha mãe foi morar  em outra casa, com outra família. Senti muito, principalmente porque ELA me “preservou” do seu abraço. Desde sua partida, há 6 anos nunca mais a vi. Tenho saudade dela e do seu abraço. Será que todos os pais quando separam levam embora seus abraços e sua vontade de chegar perto de filhos?? Sei lá...
                Minha madrasta também gosta de abraçar as pessoas. Vive abraçando sua filha e se pai quando nos visita. O vô “chato” da minha irmã. Por que?? Fica fazendo piadinha comigo. Vive dizendo que, “saco de batata e de cimento só fazem sucesso na fruteira ou na madeireira”. Todos acham graça. O avô, a neta e a minha madrasta. As vezes chego a pensar em contar para meu pai, mas tenho medo de aborrece-lo e fazer ELE bigar com a tia (?). Se ELA vai embora como foi minha mãe, ELE volta a beber e todos sofrem e choram na minha casa.
                Minha vida no Colégio também não é muito fácil. Os mesmos que me pedem um pedaço de bolo quando eu levo de merenda, ficam do fundo da sala provocando e ofendendo com expressões do tipo “Saí pra lá, elefante!”, ou “Eu não quero jogar futebol ao lado de uma baleia fora d’água”. Outro dia, minha professora de Ciências falou que, leu numa revista que as pessoas GORDAS não gostam de abraços ou que outros aproximem-se. Não é meu caso. Ou não sou gordo, como penso? Ou a força e o respeito pelos diferentes foram esquecidos?? Sei lá...EU adoro ser abraçado. Mesmo com 12 anos, chego a sonhar em crescer um pouco mais e ir morar com meus amiguinhos de tromba. Lá no Zoológico. Verdade!!  Já pensei mais de uma vez em arrumar minhas malas e fugir de casa. Deixaria um bilhete ao meu pai que, mesmo sem saber ler pediria para algum colega da obra ler a mensagem. E a minha madrasta e sua filha?? Nem me importo. Ou melhor, talvez ELAS nem notassem que fui embora. As vezes ELAS não falam comigo mesmo.
                E por que o Zoológico como nova casa??  Simples. Lá pelo menos, TODOS se respeitam. Sendo de conhecimento público que o leão é “rei do pedaço”, os jacarés se rastejam, as girafas observam tudo do alto e sobretudo, a família dos gordos elefantes NÃO SE AFASTAM NUNCA.

                                                                                                                                             Edinho Silva – maio/2014