6 de jun. de 2019

Eu, minha infância e o Circo - parte 1

         



            Posentão ...

         No final dos anos 70, minha mãe, dona Carminha levou-me ao Centro de Porto Alegre para comprarmos materiais para as aulas de Técnicas Manuais da Escola, mais precisamente "tapeçaria".               A grana da familia era curta e deveríamos caprichar nos orçamentos de linhas, agulhas e telas. Sempre que fazíamos estas andanças por lojinhas populares em busca do material escolar acessível, a dona Carminha sempre buscava o menor preço, por várias razões, uma delas era "premiar" seu filhote com um pedaço gigante de bolo de uma movimentada confeitaria da Praça Parobé, junto ao Mercado Público. Eu falei movimentada e não requintada. E o refrigerante vinha junto?? Não, né...o lanchinho era "no seco". Mas era muito gostoso principalmente, a companhia e as conversas com "mainha".
           Depois de muitas caminhadas, encontramos uma loja de bons preços, telas vibrantes e alegres. A escolhida foi a de uma imagem de um simpático palhaço, que nos dias atuais ganhou o nome de BERINGELA.
         Por que minha escolha por uma tela com imagem de um palhaço?? Acredito que tenha sido pelas boas impressões que tinham ficado em minha memória, quando fui com a escola num pequeno circo que passava pela Cidade..Nossa familia não tínha o hábito de ir ao Circo, talvez pelos custos, preconceitos, falta de oportunidades (lembram da estória da grana curta?).
            Manuseando alguns "guardados" em meus armários o que encontro?? A tela, ainda inacabada, do simpático e colorido palhaço. Ou seria uma palhaça? Por que não? Por acaso já assistiram o documentário sobre a palhaça Xamego? SUPER RECOMENDO.
          A vida anunciava que no futuro me aproximaria das estórias e das histórias do Mundo do Circo. E assim aconteceu minha aproximação ao Curso de Gestão em artes circenses, promovido pelo Coletivo de artistas, integrantes da parceria do Conselho Estadual de Cultura  e do IFRS/Porto Alegre. #respeitávelpúblicoEUTOCHEGANDO

      https://www.folhape.com.br/diversao/diversao/artes-visuais/2017/06/12/NWS,30917,71,584,DIVERSAO,2330-DOCUMENTARIO-CONTA-HISTORIA-PRIMEIRA-PALHACA-NEGRA-BRASIL.aspx

5 de jun. de 2019

Depoimento sincero - Parte 6



                                             

                                                           Dupla pesada: Mestre Garga e Lady Rô
Depoimento após uma manifestação num encontro com Conselheiros do Conselho Estadual de Cultura num dos auditórios do IFRS/Porto Alegre. 

           "Posentão...”Respeitável público...”

Como afirmei ao final do encontro de ontem quando identifiquei uma oportunidade da aproximação ao universo circense buscava informação nova, conhecimento, energia e conhecer novas manifestações. Não tinha muita clareza em relação às expectativas pessoais. Imaginava algo que “caminhasse perto das estradas do riso e da arte”. Estava enganado. VAI ALÉM! Pode parecer texto de encerramento de um ciclo, uma etapa, de uma qualificação...Não é.

Ao contrário e distante disso, posso considerar que as falas, intervenções, discussões, aprendizados, nariz torcido, riso discreto, aprovação, divergência, expressão de espanto inteiro  da primeira disciplina "História das Artes Circenses", no Curso de Extensão Gestão em Artes Circenses, do IFRS/Porto Alegre criado em parceria com o CEC-RS provou o acerto de oportunizar espaços para ousadia, transgressão, leveza, arte e resistência em nome da arte, do lazer, da Cultura e do entretenimento.

         E assim, um indivíduo que até bem pouco tempo estava na arquibancada, passa (mesmo que no imaginário), através de relatos do “novo coletivo”  sentir-se por alguns momentos em cena, no palco, no trapézio, na pirofagia, na perna de pau, nos malabares, na direção de uma cena, no auto conhecimento, na cartola, na euforia e brilho no olho da palhaçaria.

        Ainda não sei muito bem a dose certa de tudo isso. A certeza que tenho é que identifiquei uma gratificante ferramenta para “encarar os dias cinzentos” do Mundo contemporâneo, suas injustiças e descasos com a História, a Arte e a raça humana. Num espaço de “diferentes atores” o respeito, o afeto, a admiração e o encantamento que as coisas do Circo podem proporcionar a todos envolvidos  REAFIRMO A SATISFAÇÃO DO CONVÌVIO.
                         Edinho Silva, ou quem sabe um dia o Palhaço Beringela?


 
                         Time de grife: Nádia, Doug, Jac e Lipe, colegas gestores

                                                   

Oração do Circo - parte 5


    

                               dia 27 de março - Dia Nacional do Circo
 
             Lona nossa, seja ela imaginária ou de material físico, que desde o alto cobre a nossa cabeça,
          Santificado seja o espaço do picadeiro que você cobre, ou as áreas que resguardas
           Venham a nós todos os sorrisos, energias, olhos brilhantes e a alegria de todas as crianças e adultos,
           Sejam feitas no picadeiro, todas as artes com os nossos corpos, ágeis, alegres e fortes, no solo e nos ares, sejam com fogo, arcos, música e malabares.
           O espetáculo nosso de cada dia nos daí hoje,
com todas as cores, movimentos e sons que fazem a sua magia,
           Perdoai-nos quando cansados de tantos ensaios e treinos, em alguns momentos de desanimo pensamos em desistir.
           Livrai-nos das dificuldades e dos desentendimentos na troupe e protegei-nos de todos os acidentes, conosco e com nosso público.                               

                    Amém.                      

                                Edinho Silva – Dez/2018

Texto de domínio público, adaptado pelo “novo” estudante de assuntos circenses que decidiu, numa tarde nublada, sair da arquibancada para acompanhar “de perto” os mistérios, energias, sonhos e fantasias do Circo.

O chamado para os "braços" do Circo - parte 2

                                             Palhaço Arrelia
                                             Criador e direitos autorais:DAVID BALLOT

        Posentão...
         Dando uma pausa nas leituras sobre lazer, cultura e desporto passei a buscar informações sobre universos ainda não percorridos. Queria ler e estudar outras temáticas relacionadas com a arte.
        Ao passar os olhos numa chamada de um edital público que anunciava uma capacitação numa ação de extensão  "Gestão em ações circenses". Tal ação surgiu a partir da parceria do Conselho Estadual de Cultura, através de alguns artistas ligados à área do Circo, e IFRS/Porto Alegre.
        Busquei informações e encaminhei minha inscrição para a devida seleção. A disputa foi intensa e um seleto grupo foi escolhido, restando uma das primeiras suplências na minha direção.
        Assistia, na companhia da minha mulher, uma peça no Teatro São Pedro cujo elenco era capitaneado pelo grande e talentoso Antônio Fagundes que ao lado de um competente elenco familiar (filho, ex-mulher, atual mulher, a primeira esposa, atual marido da ex e mais dois amigos).
        O texto escrito pelo argentino Matias Del Federico - Baixa Terapia apresentava uma comédia com diálogos ácidos, às vezes contraditórios, que fluiam num ritmo vertiginoso, mantendo o público conectado desde o primeiro minuto até o surpreendente final.
        Nesta noite de imersão nas artes dos palcos foi um cenário positivo para receber a boa notícia sobre a classificação de meu nome para integrar a seleta turma dos futuros Gestores Circenses.
Que venha a grande noite de estréia e as novidades que estavam por vir.


http://www.teatrosaopedro.com.br/baixa-terapia-uma-comedia-no-diva-com-antonio-fagundes-e-grande-elenco/

Circo e filosofia - Terceiro registro


                                                                         Acervo pessoal dos alunos/artistas

           Posentão...

           No meu primeiro dia de aula, cheio de expectativa e de curiosidades me deparo com uma turma de inquietos, falantes, outros nem tanto, alguns provocadores, alguns reflexivos, outros polemicos. Um "coletivo de grife" como costumo dizer, heterogêneo, de diferentes faixas etárias, humores distintos, porções generosas de saber empírico, outros de saber acadêmico.
            Em meio à uma aula de direção de espetáculo, onde o professor "instigava a massa" a manifestar-se, discutir, promovendo o debate - uma característica de toda a capacitação. Em todos os momentos nas diferentes disciplinas apresentadas éramos marcados por uma certeza. IMPOSSÍVEL SAIR DA SALA indiferente (Pelo menos este foi meu sentimento do primeiro ao último dia de aula).
            Confesso que, meu sentimento nas primeiras aulas era de um torcedor assistindo a uma partida de tênis, onde o pescoço girava para todos os lados. Era comum, ao chegar em casa, relatar à minha mulher que estava "boiando" em meio às alongadas discussões e aos acalorados debates.             
            Falava-se do filósofo Espinoza com a mesma naturalidade do que o palhaço Arrelia. Do Orlando Orfei e do Baumann. Da mística trazida pelo Mundo do Circo até os diferentes formatos circenses. As discussões "aqueciam" o ambiente oferecendo novas informações, reflexões e novos olhares para a arte.
             Na medida em que as aulas iriam ocorrendo, percebia uma transformação interna em relação as artes circenses, aos artistas da rua, da lona e aos de ambientes fechados. As atividades propostas em relação às vivências práticas propostas iam cotidianamente "recheando" o imaginário e esclarecendo quaisquer conceito equivocado que pudesse ter. E desfazendo estigmas que muitas vezes existem em quem limita-se a permanecer na platéia, sem romper a barreira imaginária do palco, do picadeiro ou do camarim.
         Já num estágio avançado da qualificação alguém sugeriu um tal lanche coletivo, uma prática que se repetiu muitas vezes (para deleite de curiosos como eu). E assim, em duas mesas centrais eram depositados frutas, bolos, chá, cafés, sucos, rapaduras e o que tivesse nas bolsas. Registro que tais rápidas confraternizações jamais sairão da minha memória.
          Vida longa ao Circo.

Aulas reforçadas por comida e conhecimento - Parte 4

              Acervo pessoal dos alunos


          Posentão...

          E os aprendizados prosseguiam. Das muitas lembranças que serão preservadas foi uma simulação de apresentação de um espetáculo onde atores e artistas, de forma generosa e humilde, permitiam que os colegas com mínima experiencia ou nenhuma pudesse ocupar a função de Diretor da cena ou do Espetáculo.
          Nesta oportunidade, em meio a tantas performances previstas, uma delas chamava a atenção de todos. Aliás, causou um certo desconforto e inquietação em todas as instâncias do IFRS/Porto Alegre. Um de nossos colegas, o veterano Felipe Farinha faria uma performance no espaço mais alto do saguão de entrada. Putz!! Rebuliço geral, afinal corríamos um risco de algum acidente mais sério por conta da ousadia do artista.
            Reorganizados os atos, os passos seguintes foram de treinamentos para o grande dia - de apresentação para nós mesmos e quem passasse por perto. Nos primeiros momentos que antecederam a apresentação principal, verificou-se pequenas falhas e desconcentração de alguns participantes o que obrigou o professor regente da disciplina a reunir-se com todos numa sala e, de forma enérgica, cobrar mais responsabilidade na execução dos números. Tal atitude de cobrança dividiu as opiniões.         
            Particularmente decidi refletir e observar melhor nossa postura a partir do "puxão de orelha". Estava diante de uma situação vivida no cotidiano da vida, onde a convivencia e o sucesso do coletivo é colocado à prova o tempo inteiro. Bora...Afinal, estávamos representando uma "construção coletiva" onde qualquer vacilo ou atitude individual poderia comprometer o grupo. Adorei a experiência e os resultados que agrego em minha vida proporcionados pelo primeiro de muitos exercícios e dinâmicas que fizemos ao longo do Curso.
            Certa vez, em meio à uma aula sobre a História do Circo, o colega e artista bonequeiro Denis Moreira deu "uma verdadeira aula sobre o Carnaval, Baco, Mitologia grega e todos seus penduricalhos". Momento para ser aplaudido de pé.
            Aliás, registro muitos momentos marcantes protagonizados por professores e colegas.