9 de jul. de 2020

"Os espaços e o conflito de conceitos" - Da "Série - Reflexões durante o distanciamento social - parte 4

                                 imagem extraida do blog http://www.chicpop.com.br/post/2016/11/23/batucada-de-bamba-patologia-bonita-do-samba-notas-sobre-samba-hist%C3%B3ria-e-inven%C3%A7%C3%A3o

            A formação da Batucada do Armazém (liderada pelo Volnei Neves, meu bruxo dos Bambas, contava com a participação dos sambistas e carnavalescos Dédo Pereira, Gilmar Dorneles, Fábio Ananias e Roberto Nascimento). Time de grife. Quinteto de puro samba na veia. O convívio oportunizou muita conversa e troca de saberes no tempo em que estivemos reunidos.
            Um dos temas levantados, os repertórios cantados nas quadras de samba foi um deles. Um dos mais inconformados com tais situações era o Roberto Nascimento (cavaquinista e bambista). Segundo o Beto Nascimento, compositor de samba enredo, não se justificava as escolas de samba executarem pagodes, axés e outros hits antes dos sambas enredos. Escola de samba é lugar de SAMBA ENREDO, bateria, passistas, estandartes, baianas e tudo que se relacionava com Carnaval. Concordo plenamente com o Beto.
          Infelizmente, tal situação não era respeitada. A agenda de ensaios previa que durante a abertura um grupo de samba abrisse os "trabalhos musicais" para num segundo momento os intérpretes oficiais e os músicos de sua harmonia ocupariam os principais microfones.
      Alguns intérpretes optaram em incluir nos seus repertórios hits e sambas populares para "esquentar" o público. Particularmente, entendo que ao "esquentar" pode afastar dos ensaios a comunidade carnavalesca, de fato. A tão mistura de gerações não ocorria, pois os mais velhos e ligados às músicas "da modinha" acabam promovendo os movimentos nas quadras.
      Segundo o doutor, filósofo, professor universitário em recente pesquisa identificou como Movimentos negros em espaços de solidariedade e combate ao racismo registra a existência de terreiros e "escolas de samba". Esta afirmação reforça a tese do amigo Roberto Nascimento que as quadras de escolas de samba devam "proteger, difundir e espalhar" Cultura e resistencia na conta do SAMBA.
         Uma "outra armadilha" importada do Rio de Janeiro, das escolas de samba carioca são festas onde ritmos e músicas completamente diferentes de Samba são "a trilha sonora" principal dos eventos. Muitas agremiações de samba locam seus espaços para produtoras de eventos de outros ritmos. A justificativa, num primeiro momento, é para arrecadar algum para a manutenção dos espaços, entretanto, as propriedades na maioria das vezes são espaços públicos e não privados como as grandes casas de shows e espetáculos. Assim a Escola de samba localizada num espaço público loca um espaço ´para um público que paga um ingresso muitas vezes 8 vezes mais caro do que uma festa de samba e Carnaval. No Rio de janeiro, é muito comum o chique "Baile da favorita" acontecer em escolas de samba. E o público retorna quando tem festa de samba ou Carnaval?? Ah...deixa pra lá!!      
         Até a próxima.

https://extra.globo.com/noticias/rio/rocinha-favorita-baile-funk-na-quadra-da-escola-de-samba-da-favela-reune-mais-de-3-mil-pessoas-4130414.html

"Outro samba diferente" - Reflexões durante distanciamento social - Parte 3


                                                                                                  acervo da grupo


           Mais uma postagem com a proposição de reflexão nos debates SAMBA x PAGODE.
          Poderíamos nos deter nas letras, nos refrões, nos figurinos e nos contextos para prosseguir com a discussão acerca dos significados de um ou outro.
           Esclareço que, cada um ouve o que quiser, cada um investe dinheiro no cd ou show que quiser, dança no ritmo que preferir, "trabalha" com os produtos que desejar trabalhar...Tudo certo!! A inquietação passa por não "protegermos" o capital cultural envolvido no SAMBA.
         O "coitado" já sofre tanto preconceito de diferentes origens, estigmas que muitos simpatizantes, referendam inclusive. Estou mentindo? Claro que não. Há muito tempo, ouvimos a maranhense "marron" cantar "...Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar...". Claro que não irá acabar, pois faz parte da resistência natural de seu povo.
    Tenho minhas dúvidas que os novos formatos e "novos sambistas" foram os principais responsáveis pela renovação e manutenção ao longo dos tempos. Estou falando do que exatamente?            Dos legados deixados por sambistas de ontem, por exemplo. Já ouviram Cassiana Belfort, filha da Jovelina? André Renato, herdeiro do Sereno? Tunico e Martnália, filhos do Martinho da Vila? De Renato da Rocinha e de Moisés Marques? Sem falar no João Martins e no Diogo Nogueira? Na Roberta Sá e na Mariene de Castro?? Fabiana Cozza?
      Se formos trazer para o "palco da discussão" os "inegáveis" jovens e suas carreiras bem sucedidas: Mumuzinho, Ferrugem, Dilsinho e outros nomes do "Samba Pop", como irei chamar, podemos estar falando de outras coisas. Diria até, como dizem minhas filhas e suas amigas "um pagodinho bem pegado" é tão bom?? Concordo. Mas acrescento, até os passos de dança utilizados nestes espaços por onde rolam estes estilos apresentam outros movimentos. Enquanto um, fica parecendo uma Capoeira Regional (com influencias de lutas orientais, numa mistura de artes artes marciais com movimentos de ginástica artística) a outra se parece um pouco com a Capoeira de Angola (movimentos, gingas, figurinos inspirados diretamente das Senzalas). E agora?? As danças das aulas de ritmo ou da Estudantina??
        E os equipamentos eletrônicos envolvidos? Boa pergunta...Será que conseguimos ouvir a virtuose de um violão sete cordas no mesmo espaço de um contrabaixo e um teclado? Ou um pandeiro ou cuica no mesmo ambiente que uma "bateria nervosa", suas baquetas e seus pratos? 
         A turma do Quinteto em preto e branco (infelizmente, separado atualmente) conseguiu em muitas oportunidades. O time do Maurilio de Oliveira e seus amigos acompanhavam a Beth Carvalho com muita maestria. Particularmente, nem me importava com o som que ouvia.
           Daqui há pouco mais uma postagem...até breve.


https://www.youtube.com/watch?v=WKtkKrql544
Xequere
Compositores: Magnu Sousá/ Maurilio de Oliveira/ Nei Lopes

"O tal samba diferente" - Reflexões durante o distanciamento social - Parte 2

                                   Capa do trabalho fonográfico do Grupo Sorriso Maroto


          Eis que chega a segunda postagem...possivelmente, a mais "barulhenta", diria.
       Embora um pouco atrevido em sugerir uma reflexão no momento artístico do "espetaculoso" poeta do samba Arlindo Cruz assumo meu papel atrevido em apresentar um elemento para pensarmos juntos sobre os conceitos de Samba x Pagode (ou Pagodinho, como dizem alguns...) 
         Pois, na composição do samba "Samba é bom de qualquer jeito" apresentado no show do DVD do grupo "Sorriso Maroto", onde um dos compositores Arlindo Cruz (segundo a fonte, https://www.letras.mus.br/sorriso-maroto/274090/ a autoria traz na assinatura Jorge David, Maurição e Arlindo) canta ao lado do vocalista Bruno Cardoso, do Sorriso Maroto o samba que diz numa das partes o seguindo trecho "...viva a nova geração, presta atenção...chega de comparar e sinta a emoção no ar, samba é bom de qualquer jeito...não importa se o SAMBA é NOVO ou de RAIZ...".
         Sei lá...não concordo muito com tal afirmação.
     Queria participar de uma roda de conversa com Pixinguinha, Ivone Lara, Marcelinho Moreira, Candeia, Beth Carvalho, André Renato e quem quisesse chegar sobre as impressões e conceitos de samba. De qualquer acho temerário afirmar que, samba é bom de qualquer jeito.
        Outro dia, conversava com amigos sobre alguns rótulos em nome de produção de show e turnês de artistas brasileiros. Há alguns anos atrás, os "sambistas" Alexandre Pires e o Luis Carlos (Raça Negra) percorreram o Brasil com o show "Gigantes do samba". Num momento próximo, em entrevista o cantor Thyaguinho (ex-Exaltasamba) disse que o samba, a partir do ingresso dele no cenário, havia ganhado novas concepções e formatos. Pode?? Poder, pode...mas não sei se deve.
      O que estariam pensando Wilson Batista, Monarco, Guineto, Cartola, Ivone Lara, Martinho da Vila, Serginho Meriti, Paulo Sergio Pinheiro entre tantos outros e outras?
      Confesso que, fico confuso com letras consagradas do tipo "Toda vez que eu chego em casa, a BARATA da vizinha está na minha cama..." ou "Maltrata de vez, estou com saudades...cigana...". Ou a clássica "...le, le, le, le lá em casa...na cama...tirando a roupa toda...". Não consigo encontrar poesia nestes versos. Talvez seja opinião pessoal...mesmo??
      Quando me perguntam, quais as diferenças que vejo entre Samba de raiz x Pagode?? Como não sou um especialista no assunto, embora tenha lido algumas obras sobre Samba, destacando todo seu valor potente como instrumento e produto Cultural de nosso País, respondo o seguinte: "Costumo ouvir a letra com atenção. A obra do Almir Guineto, por exemplo "Deixe de lado este baixo astral, erga a cabeça e enfrente o mal...que agindo assim, será vital para o seu coração...é que em cada experiência se aprende uma lição..." parece uma conversa entre amigos. Comparar este trecho com um outro de um "samba novo" como "ai, ai, ai...assim mata o papai", do Sorriso Maroto, tema de novela...é brabo, né??
        Naquele momento da "defesa" do Arlindo Cruz (2005), logo depois da gravação do DVD de um dos nomes do "tal Samba Novo", surgiram outras coincidências do show bussines brasileiro. O Arlindo compos o tema de final de ano da emissora, entrou pro time principal do dominical "Esquenta" apresenta pela Regina Casé, participou de diferentes programas musicais da TV Globo sempre em lugar destacado. Enquanto os jovens, viraram sucesso nacional na trilha da novela "Avenida Brasil"...onde os personagens da atriz Débora Nascimento contracenava com o ator Marcos Caruso ao som do "Assim mata o papai...". Sei lá, com dois ou três latões na cabeça e um parceiro violonista, me atreveria a compor alguma coisa igual, não acham? Tenho certeza.
       Insisto...precisamos estar atento aos efeito do show bussines na discussão sobre os novos formatos e o ingresso dos tempos tecnológicos.
        Por fim, na minha opinião, uma roda de samba acústica distante de instrumentos eletrônicos TEM UM VALOR COLOSSAL, confere??
          Até a próxima produção...


https://www.youtube.com/watch?v=VqRdNZgnYQY
Composição: Arlindo Cruz / Jorge David / Mauricao

"Um samba diferente" - Reflexões durante o distanciamento social - Parte 1



                                     Imagem da capa do disco de vinil que herdei dos meus pais


         A partir de um acalorado debate e uma saudável troca de idéias provocada pelo camarada Fábio Canalli, gaúcho que, atualmente reside em Uberlândia\MG, profissional da área de produção musical e de carreiras artísticas, apresentou sobre o tema: Significados e novas concepções sobre Samba Novo x Samba raiz x Pagode suas diferenças e suas evoluções. Por alguns dias rolou nas redes sociais debates, opiniões e debatedores interessantes, sobre tema pra lá de relevante.
         A força do debate instigou-me a apresentar elementos e olhares para as discussões. Para muitos, "polêmicas frágeis", para outros, importantes para aprofundarmos nosso debate e trocar conhecimentos. Bora refletir juntos... 
           Ainda na adolescencia, meus pais ouviam músicas nos finais de semana. Rolava de tudo um pouco, boleros, tangos e muito samba. O som vinha de discos de vinil e uma vitrola "meia boca", mas nos divertíamos muito.
      Um dos nomes que ELES amavam era o GRANDE e TALENTOSO Benito di Paula. O cara apresentava-se de brinco na orelha, um figurino diferente e fazia seu som sentado ao piano. Exatamente, um piano no samba.
       Minha "ignorância" (de ignorar) da época olhava com desconfiança o som que o diferenciado sambista fazia ao piano. Imaginava, naquele momento da minha vida, que roda de samba contava basicamente com surdo, violão, cavaco, pandeiro e instrumentos percussivos. Ledo engano, pois suas obras, riquissima produção autoral, atravessaram os tempos sendo até os dias de hoje uma das referências do samba no Brasil.
          Por que a contextualização? Para incrementar a discussão  que pode apresentar diferentes formatos e olhares sobre a diferença conceitual de samba e pagode. 
         Afinal, os gêneros podem ser classificados da mesma forma? Pagode é a mesma coisa que samba?Segundo alguns "conceitos" e opiniões o "Pagode" é uma animada reunião de sambistas, enquanto o samba apresenta uma definição atribuída à Patrimônio Imaterial  e Cultural do Brasil.
       Alguns afirmam que a essência é a mesma, embora tenham mudado algumas melodias e instrumentos musicais usados.
          A conversa rende muito pano...Enquanto isso, o Mestre Benito Di Paula continua colaborando com sua obra e seu piano. Contribuição imprescindível para avaliarmos que a chegada de um instrumento diferente à roda de samba pode colaborar com letras GARRAFAIS. "Tá Edinho, então reconhece que o músico Leandro Lehart, do Art Popular, pode ser considerado um SAMBISTA??" Ah..sei lá, pergunte ao "Pimpolho, que era um cara bem legal....". Desculpem a brincadeira...me confundo também.
         Até a próxima postagem...sobre o assunto