Imagem meramente ilustrativa - surdo de bateria
Olá amigos e amigas/
Aqui
é Fernando Baptista e este é o Mesa de Diretoria, uma mesa diversa, sem preconceitos,
musical e repleta de histórias aqui no Armazém do Seu Brasil.
E
hoje eu trago para vcs, na estreia deste espaço, um pouco da história de um
grande diretor de bateria, mestre de bateria. Mas muito mais do que isto. Um
ícone da percussão no nosso Estado, do nosso carnaval, da música regional e até
dos festivais nativistas.
Falo
de Nery Soares Gonçalves, o mestre Neri
Caveira, nascido e criado no Areal da Baronesa, berço do samba gaúcho em
Porto Alegre.
Afilhado
do irmão de Lupicinio Rodrigues, agraciado com o Prêmio Açorianos de Música
pelo CD Três Percussionistas em 1997, Neri introduziu breques até então inexistentes
nas baterias das escolas de samba do sul do país.
Estudioso,
em paralelo ao seu trabalho a frente da bateria de Imperadores de Samba, onde
foi imortalizado, desfilou seu conhecimento, o sorriso aberto, as suas
influências musicais e rítmicas pelos palcos dos festivais nativistas quebrando
paradigmas e vencendo preconceitos.
Em
um deles, que o recebeu de braços abertos, A Moenda da Canção, de Santo Antônio
da Patrulha, Neri tocou por diversas vezes com Loma, uma das divas da canção do
Rio Grande do Sul.
E
lá residiu, marcou época e talvez tenha tido a maior homenagem que poderia receber:
é nome do troféu dado ao melhor percussionista da Moenda Instrumental, que
ocorre junto da Moenda da Canção desde 2011. Fica a dica, depois que tudo isso passar,
que os abraços voltarem, vá até Santo Antônio da Patrulha e confira a Moenda. Você
não vai se arrepender.
Voltando
a Porto Alegre, após este rápido passeio a Santo Antônio Patrulha, Neri gravou
cd´s com Neto Fagundes, Nelson Coelho de Castro e própria Loma. Dividiu o palco
com Renato Borghett e colocou a bateria dos Imperadores junto com orquestra da
OSPA, unindo o erudito e o popular.
Lá
estavam lado a lado, em igualdade de condições, os músicos da orquestra com
seus violinos, flautas, violoncelos e oboés, e os músicos da escola de samba
com caixas, tamborins, repiniques, maracanãs, regidos pelo mestre Neri Caveira.
Vendo tudo isso, outro mestre percussão gaúcha, o pelotense e fundador da
Academia de Samba Praiana, Giba Giba proferiu a célebre frase: isto não é uma
bateria e sim uma sinfônica.
Tempos
depois Neri Caveira e sua Sinfônica estavam no palco sagrado do Teatro São Pedro.
A cultura popular ocupava um espaço nobre, de pompa, provando sua força e importância.
Neri
nos deixou em janeiro de 2004, aos 67 anos. Mas deixou um legado e a sinfônica sob
o comando de dois grandes discípulos seus: Sandro Brinco, que faleceu precocemente,
e Sandro Gravador. Aliás, é impressionante a quantidade de talentosos e
talentosas percussionistas que nosso Estado produz. Procure mais sobre Davi
Batuka, Pedrinho Bozo, Mestre Cy, Ariel Espindola, Biba Meira, Mimo Ferreira, Mestre
Guto, Cristiano Tutti Sagui, Luciana Melo, Bruno Coelho, Zé Evandro do
Pandeiro, Zé da Terreira, Alexsandra Amaral, Luiz Jaka, veja a trajetória de
Marcelo Pimentel, Giovani Berti, Richard Serraria. Projetos como Alabê Ôni,
Turucutá e Tamborada. Reverencie os baluartes Giba Giba, Fernando do Ó e Mestre
Nilton Pereira (Velha Guarda de Bambas da Orgia).
Temos
que lembrar que os tambores, reprimidos por muito tempo, foram muito mais que
música. Foram sinônimo de resistência, rebeldia e um sopro de liberdade e esperança
diante da sociedade escravocrata existente. E hoje de certa forma seguem sendo.
E
nada melhor do que encerrar este primeiro Mesa de Diretoria com a homenagem de Nelson
Coelho de Castro cantando “Mestre Neri”, de sua autoria, que está no CD “Da Pessoa”.
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o Armazém do Seu Brasil nas redes sociais e até o próximo Mesa de Diretoria.
Fernando Batista Maguari - jornalista, sambista, carnavalesco, estudioso das coisas do Brasil