7 de jul. de 2015

Vozes do Samba na Rádio Estação Web - Odir Ferreira e Edinho Silva





                   Dentro das comemorações alusivas ao quinto ano de fundação da Rádio Estação Web os colaboradores e comunicadores receberam um desafio de sua direção. Edições ousadas e festivas em meio a novidades, informação, cultura e muito entretenimento. Incluído no grupo dos "velhinhos da casa" o Armazém do seu Brasil não poderia "encarar" a tarefa com muita energia, criatividade, leveza e ousadia. E foi assim nossa produção da edição Especial do próximo domingo, dia  12/07/2015, a partir das 13h.
                   O convidado entrevistado do programa é o radialista, produtor, mestre de cerimônias e, a partir de agosto, o comendador de Porto Alegre, Odir Ferreira - a voz oficial do Carnaval. A entrevista cheia de bom humor e histórias do rádio gaúcho, lembranças de ícones como o Roxo, recordações de bons momentos da Rádio Princesa, homenagens a amigos que trabalham pelo Carnaval, como o Israel Ávila, do Setor 1 e o Sérgio Peixoto, o temista e idealizador do consagrado CETE - Centro de Estudos de Temas Enredos. O radialista que nos recebeu nos estúdios da Rádio Saldanha pode em 4 blocos de animado papo apresentar fatos marcantes de sua trajetória. Tudo regado a muito samba.
                O programa estará imperdível. Cheio de balanço,  nostalgia, de histórias do Carnaval e da Cidade de Porto Alegre. Sou um pouco suspeito, mas acredito que produzimos uma edição compatível com o tamanho da Rádio Estação Web - a primeira emissora da web a receber o Premio Ari de Jornalismo, em 2014.
Confere lá. Quando?? Armazém do seu Brasil, domingo, das 13h às 15h, na www.radioestacaoweb.com  
To esperando tua audiência, hein?/
Forte abraço,
 
Edinho Silva    

 

Reflexões sobre o serviço público


            
         

 O relógio no pulso do funcionário público marcava 13h. Era o horário reservado para o almoço do agitado ambiente de trabalho do Juvenal Sozinho, escriturário de carreira da Secretaria da Fazenda do RS. Ao sair para almoçar no restaurante chique e badalado vizinho à repartição, o Juvenal se deu conta de que não tinha dinheiro suficiente para pagar sua despesa. Como tinha fome, não teve dúvidas e adentrou o Supermercado próximo dali e comprou dois pãezinhos, alguns fiambres e uma garrafa de refrigerante pequeno para comer um lanche perto dali. Escolheu a praça Mal Deodoro, localizada há alguns metros do Mercado e de seu local de trabalho.
Naquele horário, a pracinha estava vazia. Poucos pássaros sobrevoavam as frondosas árvores, uma babá empurrava um carrinho de bebê e um senhor, morador de rua, mantinha-se deitado sobre um banco de cimento no outro extremo da pracinha. Sentado num outro banco de cimento, coincidentemente frio também, o Juvenal abriu a embalagem dos pães e passou a organizar seu sanduiche/almoço. Preparou dois sanduiches que seriam devorados com o refrigerante em pouco tempo. Enquanto, levava o primeiro à boca, observava os movimentos do senhor que estava deitado num outro banco próximo dali. O desconhecido homem movimentava lentamente os braços, enquanto o funcionário público comia o primeiro sanduiche. Em algum momento pensou em oferecer o segundo sanduiche ou um pedaço do mesmo para (quem sabe?) saciar a fome do morador “relaxado”. Enquanto aproximava-se do homem, Juvenal refletia sobre a vida e nos pensamentos daquela pessoa deitada no frio banco de praça. Ao chegar próximo do banco de cimento, estendeu o lanche oferecendo-o ao homem das ruas. Olhando de forma fixa nos olhos do Juvenal, seu José – o morador de rua, ajeitou sua cabeça e agradeceu a oferta, recusando o pão oferecido.
Espantado, Juvenal perguntou ao seu José: “O senhor não tem fome? Deve ter dormido ao relento sem comer nada até a esta hora? Pode pegar, um sanduiche apenas me basta! O vizinho “temporário” que relaxava seu corpo sobre o banco de cimento frio, respondeu de forma calma: “Não tenho fome moço. Tenho sim vontade de conversar com as pessoas. Uma boa e calorosa conversa mata a fome e sede de  qualquer pessoas”. E concluiu: “Sabe por que? Pra fugir de solidão, seu moço! Esta  sim mata uma pessoa.”
Na ocasião falou-se de tudo um pouco. Dos tempos em que seu José liderava greves. Das tristezas com a aposentadoria e morte dos colegas mais antigos. Das mudanças nos ambientes de trabalho. Das inúmeras trocas de Chefias e das discussões sobre os horários de serviço da repartição. Das férias no Clube sindical que a “dona patroa” e as crianças faziam novas amizades. Do Grupo Coral que participava, das viagens e das apresentações. Lógico que em meio a tanto assunto era impossível conter as lágrimas. Maldita falsa oportunidade de tornar patrão de si mesmo. O tal Programa de Demissão Voluntária chegou todo “enfeitado e perfumado” seduzindo a todos que o acolheram. O seu José disse ao Juvenal que foi um deles. Aderiu à proposta e em pouco tempo enfrentou sérias dificuldades financeiras. Esfacelamento financeiro e familiar, repercutindo até os dias de hoje. Tristeza pura. Falta de aviso e de alerta dos colegas não faltaram.
Depois de demorado bate papo, sobre família, trabalho, oportunidades e vida, o  funcionário público Juvenal ficou sabendo que seu José também era funcionário público que havia aderido há muito tempo a um destes programas de demissão voluntária propostos pelo Governo. Investiu errado em negócios fragilizados, pagou algumas continhas, comprou presentes para família, perdeu em apostas, perdeu família e acabou na condição de morador de rua. Sem filhos ao redor, companheira, sem casa, sem teto, sem carro e sem posses o melhor que tinha no momento era uma praça sossegada para passar seus restos de dias.
       Após algumas mordidas no sanduiche e alguns goles de refrigerante, Juvenal olhou para seu pulso e percebeu que a hora havia avançado e precisaria retornar às pressas. Ao despedir-se do seu José, foi lentamente afastando-se sem antes refletir sobre sua vida, seu trabalho e seu compromisso com o Serviço Público e consigo mesmo.