20 de jun. de 2022

Sempre muito bom falar sobre Zumbi dos Palmares, por Indaiá Dillenburg

 



                                            Edinho Silva junto ao monumento a Zumbi dos Palmares/Aracaju/SE
                                                                   acervo pessoal - 2014


                Viva Zumbi! Cinquentenário do 20 de Novembro

 

            Estive, no início de junho, no lançamento do livro "50 Textos do Cinquentenário do 20 de Novembro", iniciativa da Secretaria Estadual da Cultura/RS. Solenidade linda e emocionante no Museu Antropológico (Mars), na minha Porto Alegre. O amigo que me convidou e que também é um dos 50 escritores, me disse dias depois: "Nossa, tu conhecias a maioria dos convidados ". Sorri ao ouvir isso, pois me deparei com muita gente que admiro e respeito nessa caminhada, a qual participava mais como espectadora, até ser provocada, por um outro amigo, a escrever minha primeira crônica de mulher negra, em 2019. Por que não antes? Porque como dizia meu saudoso paizinho "antes da hora não é hora " (aí que saudade do meu velho). Então, quando chegou a hora, escrevi. E foi muito bom. Passei a ler mais sobre nossa história ancestral e também autores atuais e empoderados.

        Mas voltando à obra que teve muitas mãos realizadoras, apostando nos talentos negros e também não negros que participaram do edital do governo do estado, digo que o livro é um primor. E aqui cabe um parêntese. Ver Antônio Carlos Côrtes falando emocionado como um dos membros fundadores do Grupo Palmares, que juntamente com outros cinco nomes tornou possível fazer do 20 de novembro, data da morte de Zumbi, o dia da Consciência Negra, em contraponto ao 13 de maio, o tal dia da abolição da "escravatura", calou fundo em mim. Os outros, outrora jovens sonhadores assim como Côrtes, que instituíram a data em 1971 são Ilmo da Silva, Vilmar Nunes, Jorge Antônio dos Santos, Luiz Paulo Assis Santos e o poeta Oliveira Silveira. Sem demérito à trajetória dos demais, Oliveira Silveira toca meu coração há muito tempo e marcou sua passagem nessa terra com determinação e convicção na luta pela igualdade. Somos diferentes e isso não nos faz inferiores. O respeito é o caminho. Temos que estar sempre atentos, pois o racismo velado está em toda parte.

        Dia desses mesmo, em um programa de televisão na emissora mais assistida, a apresentadora não hesitou um segundo ao colocar uma bandeja de cocadas nas mãos da convidada negra dizendo para ela servir os outros convidados porque afinal ela tinha preparado a iguaria. Racismo estrutural gritando. Tal atitude fez com que o apresentador negro tomasse a bandeja das mãos da convidada e ele passou a servir os demais. Chegou a dizer de maneira delicada que ela não estava ali para servir em um claro "Se toca, colega". Esse negócio de "não fiz por mal" não serve mais. Olha eu e os meus parênteses. Voltando à obra, ressalto que foi muito importante para mim, ler os textos primorosos, merecedores de estarem nesse registro histórico.

        E embalada no que acabei de relatar, destaco trechos do texto “Cinquentei” de Simone Röhrig: “...Cinquentei, quero ser visto, comemorado, na televisão, nos terreiros, nos tablados. Que em 20 de novembro, dia da consciência negra, tenhamos como protagonistas profissionais negros, juízes, delegados, atores, médicos, filósofos, advogados entre tantas outras profissões, além daqueles que estão nas periferias e nunca são mencionados...” - Nas profissões, tomo a liberdade de acrescentar a minha: jornalista.

        E por fim, o prazer de ver a filha de Oliveira Silveira, Naiara Silveira, na solenidade. Mesmo não sendo ela uma das autoras, pedi seu autógrafo. Uma maneira de ficar mais perto do mestre Oliveira Silveira. E seguindo o que Côrtes nos convidou a fazer (aliás, ele merece um texto à parte -  único vivo dos fundadores do Grupo Palmares) ... fechando mais um parêntese, sigo o que nos propôs Côrtes: Ilmo da Silva, presente; Vilmar Nunes, presente; Oliveira Silveira, presente. E eu acrescento: Zumbi, presente. Viva o 20 de novembro! 👊🏾

            Até a próxima.  

            Um beijo da Indaiá Dillenburg

 



 

 

 

 

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário