14 de dez. de 2018

Energias boas na avenida – um pouco de poesia


                                                       Acervo pessoal do Grupo Puro Asthral - Revellion 2016

Para tristeza de muita gente, o Carnaval de Porto Alegre no ano de 2018 sofreu um duro golpe. Por diferentes motivos (que prefiro abordar num outro momento) os foliões e simpatizantes da maior festa popular do País – o Carnaval  não puderam exibir suas fantasias, enredos e euforias neste ano.
Não teve passista, nem mestre-sala, nem ritmista, porta-bandeira, nem instrumentos e, tampouco arquibancadas para os que costumam aplaudir a “ópera do povo” que é a folia de Momo.
A tristeza abre espaço para reverenciar um grande sambista e compositor de sambas enredos do Estado. O Rio Grande do Sul ao longo dos tempos, foi celeiro de talentosos compositores, porém afirmo, com letras garrafais, o mais impactante samba de exaltação à uma Escola de Samba gaúcha foi o  compositor Wilson Nei – o poetinha do Sul, como é conhecido por gente que entende de samba nestas regiões. Aos 15, compôs a primeira obra. E não parou por aí.
Com fortes ligações aos Imperadores do Samba, umas das tradicionais escolas de samba da Capital Porto Alegre, o diretor de harmonia, violonista, compositor e intérprete Wilson Ney dos Santos percebendo o grande entusiasmo dos carnavalescos vermelhos e brancos (as cores da agremiação) compôs o  samba de quadra definitivo da Escola, onde destaca em “Convite ao Povo” os seguintes versos: “Povo meu/ povo meu/Ainda resta um lugar na nossa Escola/desça da arquibancada e vem sambar no Imperador/ Pois além da alegria também existe amor/. Um canto que inundava a avenida de desfiles e contagiava os milhares foliões da ocasião independentes de Agremiação carnavalesca. Imagens eletrizantes que os apaixonados pela Cultura Popular registravam..
Filho de um sapateiro com uma dona-de-casa e mais novo entre seis irmãos, Wilson Ney começou a trilhar o caminho da música na Chácara das Pedras, bairro popular em Porto Alegre. Aos 13 anos, já tocava violão com o grupo sambista “Povo meu”. Sua estreia no Carnaval veio em 1971, quando foi convidado a compor um samba de exaltação para a Sociedade Floresta Aurora. Samba que, aliás, foi “extraviado”. Antes de apresentá-lo à sociedade, Wilson Ney mostrou aos Acadêmicos da Orgia, que gostaram e acharam que o samba deveria ser para uma escola, e não para um bloco.
Considerado um dos grandes poetas do samba gaúcho e autor de mais de 500 obras, Wilson Ney ultrapassou os limites do bairro na zona norte de Porto Alegre e conquistou fama nacional, sendo gravado por Neguinho da Beija-Flor, Elza Soares, Dominguinhos do Estácio, Leci Brandão e Alcione, entre outros.
Ao completar “algumas dezenas de anos de carreira” traz na sua bagagem autoral um clássico samba do cancioneiro gaúcho do gênero intitulado “Fogo de palha” (1978) identificado pelo refrão forte e apaixonado: “Vá, sou o primeiro a lhe dar a mão ...Agora que eu quero ver...Se eu ou se você estava com a razão...Se foi fogo de palha ou não” A carreira do compositor nada tem a ver com o título de sua composição. Sua inspiração nunca foi passageira. Nem o seu talento.
Assinou ao longo de sua carreira muitos sambas-enredo de escolas como Imperadores do Samba, Acadêmicos da Orgia, Beija-Flor do Sul, Império da Zona Norte e Copacabana. Foi tema enredo dos Fidalgos e Aristocratas e passou pela direção de harmonia da maioria das entidades carnavalescas locais.
Torcendo que o Carnaval de Porto Alegre, meu, do Wilson Ney e de tanta gente  possa renascer, a avenida ganhar vida e as arquibancadas lotarem. E por que não esvaziar, para sambar com os Imperadores, os Bambas, a Leopoldina, a Restinga, a Praiana, o Império, a Vila do Iapi, a Samba Puro e todas que desejarem sambar?
Até breve, 

Edinho Silva, do Armazém


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