12 de out. de 2010

Loiras geladas

   




Tio João, entre risos e indignações nos conta que, o Marcelão um dos cavaquinistas das animadas rodas de samba da galera do Armazém, é “ligeiramente traíra” nas questões que envolvam cervejas. Principalmente, quando a turma combina um rateio para comprar “as loiras”. O virtuoso músico chega no samba sempre depois da “vaquinha” ter sido organizada e dependendo da cerveja comprada, ELE inventa uma desculpa e não toma. Afirma que, algumas marcas causam a ele, dores de cabeça e diarréia.
Pois, no aniversário de 15 anos da Lalinha, uma das netas do Dr. Totonho e da Dona Cenira, além da comilança, do dj, das bebidinhas e da decoração apropriada para o evento, estava prevista uma grande roda de samba. A banda do Armazém (amigos dos avós da jovem)   foi escalada e como presente ofertariam a cerveja da festa. O Luquinha e o Dinho do violão, foram “nomeados” para arrecadar o dinheiro e comprar as tais “loiras geladas”. Gulosos por umas bebidinhas, aproveitaram algumas ofertas oferecidas nos mercados locais de uma marca de cerveja(não tão premiada assim) e compraram MUITAS garrafas. Acrescentaram às compras muitos sacos de gelo para acondicionarem  as garrafas nos tanques reservados para tal fim.
Ao chegarem na festa com as bebidas, o anfitrião Dr. Totonho espantou-se, pois a marca trazida era uma das que causava problemas no Marcelão, o cavaco da banda. O Dinho, de forma franca e direta, afirmou: “Não se preocupe, tio Totonho, o Marcelão não foi achado para participar do rateio”. E acrescentou: ”Aliás, as cervejas estarão tão geladas e sem rótulos que, ELE nem perceberá que marca de cerveja foi comprada”. Com a festa em andamento os rótulos das garrafas foram soltando-se, confirmando o que havia anunciado o Dinho. e com isso ninguém mais sabia qual marca era a consumida.
No meio da festa, galera animada, bebendo TODAS, chega o Marcelão, com sua pastinha de músicas e seu cavaco. Aproximou-se da roda, plugou seu intrumento e saiu “lascando samba”. Em seguida, alcançaram-lhe um caneco de cerveja. Dois canecos. Três canecos.  Era um samba, uma cerveja, dois sambas, duas cervejas. Uma beleza de festa, a galera sambando e ninguém parado.  O Cassinho, inicialmente, dividia as cantorias com o Marcelão, que aos poucos tomou conta do microfone, transformando-se no dono da noite. Cantou todos os sambas do Roberto Ribeiro, Fundo de Quintal e a coleção completa do  Jorge Aragão. Já com o sol forte e os relógios anunciando 7h30minutos da manhã de domingo, ou seja, no  dia seguinte ao aniversário, os músicos foram silenciando seus instrumentos. E o Marcelão? Caído na grama, perto da piscina do dr. Totonho, abraçado ao cavaquinho e “lotado” de cervejas – completamente alcoolizado. Um dos sobrinhos do anfitrião, avesso à bebidas, fazia a “tele-entrega” dos bebuns, entre estes o Marcelão.
Lá pelas 20h de domingo, o preocupado Dr. Totonho telefonou para a casa do Marcelão para saber se o mesmo havia tido dores de cabeça ou “amolecido suas fezes” como sempre acontecia, segundo o próprio sambista afirmava. Pelo menos era esta justificativa que dava  quando convocado a contribuir. O Dr. Totonho foi supreendido pelo Marcelão, quando este respondeu de forma tranquila: “Mestre, que festão, hein?”. “Tudo classe A, comi bem, batuquei com a rapaziada, bebi todas, fui levado até em casa, dormi até às 14h e depois me mandei para o Beira-rio assistir o nosso Colorado”. “Festa maravilhosa, estou pronto para outra” – afirmou o cavaquinista. O dr. Totonho sempre diplomático ouviu e agradeceu sua participação na roda de samba de sua neta. Mas intimamente, sentiu-se desconfortável com tais respostas, pois não imaginaria ouvir tal declaração. Afinal, o amigo sempre justificou a impossibilidade de ingerir tal marca. Os outros amigos alertavam: “Meu caro Totonho, é migué do moço”, afirmava Tio João.
Sentou ao computador e redigiu um documento sugerindo aos parceiros de batucada a “preservação” do Marcelão dos próximos encontros da turma do Armazém. Segundo ELE, a amizade não deve ser ameaçada por traços de esperteza. Registrou em letras garrafais que, estava desapontado com o moço, pois afinal quando tem que colaborar com algum trocado “a cabeça do malandro dói, o cocô fica mole, dores de barriga aparecem”. Assim não dá, registrou. “Quando é de graça, TUDO se transforma em suco natural”. O dr. Totonho, saiu da gravata e das abotoaduras e apresentou seus argumentos para preservar de suas festas e dos encontros da turma do Armazém.
Novos cavaquinhos foram agregados à  roda do Armazém e, quanto, ao Marcelão, até os dias de hoje tá  indo, ou no dia errado ou em local desconhecido nos pagodes da turma. Acredita-se que, ninguém falou a verdade para ELE sobre a gafe na casa do “doutor”.  Perguntei ao Zeca do surdo se ELE achava justa a punição e recebi como resposta: “Malandro conheci dois: Mestre Marçal e Bezerra da Silva – o resto é aprendiz, mermão!!!”

Um comentário:

  1. Conheço por outrora muitos desses "aprendizes" que tambem relevamos em consideracao ao coletivo e ao ludico..
    De qualquer forma só queria mesmo parabenizar te pelo blog que tem uma fineza e uma qualidade que eu poderia dizer dignas de "Edinho", hehe.
    Grande abraco e nao vejo a hora de poder prestigiar essa bela festa cultural...

    ResponderExcluir