11 de out. de 2010

Sob os olhos da Santinha

       Dona Morena, tomou coragem e algum tempo depois de perder seu grande amor, o tio Dionísio, permitiu-se conhecer uma outra pessoa. A convite dos amigos, João do Brasil, Tianinha, Zeca do Surdo e mais alguns casais, Dona Morena vestiu seu melhor vestido, maquiou-se e caiu no samba em pleno Areal da Baronesa. Coisa boa, batucada ritmada, cavacos e violões afinados, sambistas respeitosos, ambiente seleto. Tudo rolava legal na maior harmonia.

 Na roda de samba, um mulato alto e forte destacava-se pelos balanços e a graça de seus movimentos – era o seu Tide (Tidão para os mais chegados e colegas do Cais do Porto). Portuário nas horas de labuta, homem sério, respeitador e dono de uma voz grave no partido alto. E quais eram os atributos que mais chamava a atenção da nossa amiga? O moço era descompromissado. Pelo menos era o que todos pensavam.
Rodavam a cidade em busca de um bom pagode e diferentes rodas de samba. Sambavam e namoravam como dois adolescentes. Participavam ativamente de eventos sociais depois de apresentados às famílias. Os três filhos da Dona Morena aprovaram o namoro da mãe. Viviam um conto de fadas.
Como fazia todos os anos, Dona Morena repetiu o que fazia anualmente no mês de fevereiro. Participava ativamente da tradicional  procissão de Nossa Senhora dos Navegantes, onde cumpria promessa com o Júnior(5 anos), seu filho mais novo, todo vestido de anjinho. Desta vez, apaixonada decidiu convidar o seu Tidão (quem sabe a santinha não abençoava a relação também?). O namorado topou na hora, pois depois almoçariam por lá, comeriam melancias e se divertiriam no Império da Zona Norte.
O Tidão, todo charmoso, decidiu fazer um agrado para namorada e providenciou um par de asas para ELE também. E por boa parte do trajeto conduziu o pequeno Júnior no colo, enquanto acompanhavam o cortejo. A alguns metros da praça principal e da celebração da esperada missa, o simpático Tidão foi surpreendido por uma “bolsada” na cabeça, seguida de bofetadas no rosto e uma dúzia de xingamentos: “Te peguei, seu danado!”, “Seu cachorro nojento, carregando teu filho caçula, né?”, “Então é aqui que você vai descarregar o navio de Rio Grande, seu vagabundo?”, “Até asas colocou nas costas para carregar o filho, seu bosta adúltero!”. Pois a responsável pela gritaria era uma senhora de porte físico avantajado que, surgiu entre as bancas de velas, acompanhadas de  mais duas jovens(grandes também). Quem eram? A esposa oficial e as duas filhas do Tidão. Nem as asas do sr. Aristides sobraram em meio à pancadaria. O “mulatão”, ligeiramente machucado, saiu em disparada em meio ao povo religioso. Deixando o garoto, a mulata namorada e as asas brancas para trás. Tudo sob o olhar maternal da Nossa Senhora dos Navegantes que, observava  com olhos de mãe, toda aquela  confusão.
A dona Morena acompanha a procissão até os dias de hoje, porém sem nunca mais ter avistado o “charmoso” Tidão, que não voltou à casa da namorada, nem para buscar a camiseta do seu Xavante e sua bermuda jeans, a peça de roupa preferida do seu armário.      

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