11 de out. de 2010

surdo triste














“...Meu surdo, velho amigo e companheiro
Da avenida e do terreiro
Da roda de samba e de solidão,
Não deixe que eu, vencido de cansaço
Me descuide desse abraço
E desfaça o compasso do passo
Do meu coração...”
              Totonho/Paulinho Rezende              
                 
            Na estréia do Armazém do seu Brasil, relato uma história protagonizada por um amigo do filho mais velho do tio João, o Nanato. No início dos anos 90, era  comum  esportistas e sambistas invadirem o Parque Gigante – área social do S. C. Internacional. Em meio a uma legião de colorados, havia alguns gremistas “disfarçados”  que, para não ficar de fora das festanças acabavam associando-se também por lá. Qual a razão? As animadas reuniões nas churrasqueiras coletivas, as “famosas Senzalas”  que,  reuniam uma galera bem significativa ao redor de um bom churrasco, cervejas geladas, amigos  e um samba cadenciado.
            Naquela época no Centro da Cidade haviam muitos bares com música ao vivo(samba, exclusivamente). O El Bodegon, era um deles. Todas as sextas-feiras, o grupo Samba Quente agitava o salão com muita batucada legal. Dos instrumentos envolvidos havia um que se destacava: era o surdo do Dadinho – Osvaldo Fraga da Rosa.
Pois, o tio João nos conta que, armou uma churrascada com samba no Parque Gigante que estariam presentes seus amigos  e os do Nanato, seu filho. Muitos sócios do clube  e outros nem tanto. Entre eles,  o alegre  e  simpático nego Dado.  Na ocasião ficou combinado que, os convidados não sócios ingressariam nas dependências do clube pelo portão do estacionamento e com o conhecimento do responsável pela segurança. Amigão da galera da “senzala”, como eram conhecidas as churrasqueiras coletivas do espaço social. Acertado  o horário e os detalhes da função  era só chegar bem cedo no local, preparar os espetos, colocar as cervejas no isopor e aguardar o início da fuzarca.
No domingo combinado, lá se foi o Tio João, Tianinha, alguns amigos – entre eles, o festeiro Zeca do surdo – direto da boemia, bem cedo reservar as tais churrasqueiras. A manhã ensolarada, colaborava e aos poucos chegavam os associados, o colorado Dr. Totonho  e sua nega véia, dona Cenira, mais alguns amigos e familiares e no portão dos veículos, conforme a combinação, a turma dos “sem mensalidades e sem carteiras” ingressavam de forma rápida e discreta.
Lá pelas 11h da manhã, a turma do tio João avista de longe, um negro sorridente, carregando um belo e enorme surdo sobre a cabeça, acompanhado por sua mulher, adentrando no portão principal dos sócios do Parque. Confusão geral, pois o mesmo não pertencia ao quadro social e insistia em entrar. Afirmava que, seus amigos já estavam lá e ELE iria entrar de qualquer jeito. Era o simpático Dadinho que, havia armado a maior confusão. O responsável pela segurança desapareceu em meio ao tumulto. “Sururu” formado e o nosso convidado que errou o portão não tirava o surdo da cabeça. O tio João foi chamado e tentou intervir para tentar solucionar a situação. Quando ainda sob o efeito de muito drinque da madrugada, nosso querido Dadinho, pediu a atenção e lascou uma pérola – “E se EU entrasse, comesse uma costela, tomasse uma gelada, abraçasse alguns amigos e tocasse dois sambinhas em 30 minutos?”. Sem cerimônias, afirmou: “Prometo voltar na segunda-feira, afinal sou colorado, vou direto na secretaria social do clube e comprarei um título para repetir a festança na outra semana!”. Perplexidade de todos e gargalhadas gerais. 
Foi permitida a entrada do moço e registrada a tal promessa. Para alegria de muita gente presente naquele dia no Parque Gigante, a batucada teve início depois do almoço e  invadiu a noite ao som de vários intrumentos, com destaque para o vibrante surdo do Dadinho, que só saiu do espaço colorado, altas horas daquele dia. E a carteirinha e o título de sócio do moço? Até hoje,  Dona Morena, amiga do Armazém e outros sócios do clube, não tem certeza se o Osvaldo associou-se no Parque. Pelo menos, nos 3 meses que se sucederam ao episódio, nunca mais foi visto por lá.

Dadinho: Que a certeza de nosso reencontro possa nos trazer boas lembranças tuas.


* O Dadinho despediu-se deste plano de vida após concluir uma prova de capacitação física admissional dos Correios e Telégrafos, em plena Redenção.     

Um comentário:

  1. Salve Edinho, vida longa ao Blog...Viva o Samba!!!
    Lembrar que nessa semana tivemos o falecimento do grande Alcino, Ratinho, compositor de grandes sucessos na voz de Zeca Pagodinho. Como vai Vadiar, entre outros.

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