27 de out. de 2010

O meu lugar é perto de Santo Antonio - Pagode do Andaraí

           
             Dia desses, ainda no ano de 2004, o tio João do Brasil me contou como conheceu o Pagode do Andaraí, conhecida concentração de amigos do Samuel Guedes, localizada nas proximidades da Igreja Santo Antonio,  tradicional bairro de Porto Alegre.
             No início da função o SAMUKA, como é conhecido por seus mais chegados, reuniu alguns amigos para um churrasquinho, algumas geladas e uma democrática roda de samba. Não imaginava o amigo do Armazém que, a concentração verde e amarela ganhasse a notoriedade que adquiriu.
            Pois, numa tarde de sexta-feira de setembro, Tio João foi até o Mercado Público comprar um peixe fresco para Tianinha preparar uma muqueca. No domingo receberiam alguns amigos de Rio Grande em sua casa. Produtos comprados e temperos selecionados, decidiu tomar um choppinho no Bar Naval. Chegando lá, encontrou seu grande amigo Fabinho e após abraços e cumprimentos entusiasmados rolou o convite para uma chegadinha no Andaraí, no dia seguinte. Curtir um samba legal, tomar umas geladas, reencontrar amigos e beliscar uma costela gorda.
           No sábado, com cavaco afinado, uma peça de maminha debaixo do braço e o Zeca do Surdo a tiracolo, lá se foi João para a já famosa roda de samba. Chegaram perto das 15h e não lembram até hoje, nem em que estado etílico, nem a hora que sairam de lá? O combate foi forte, dizem ELES.
           O movimento, carinhosamente conhecido como Pagode do Andaraí, crescia a cada final de semana, acolhendo amigos, famílias inteiras e sambistas avulsos de todos os cantos da Cidade. Inquietos, Samuka e seus parceiros, além de batucar e se divertir, decidiram realizar ações sociais solidárias – arrecadando produtos de higiene pessoal, material escolar e brinquedos a serem distribuídos em creches comunitárias das vilas e bairros próximos ao ponto de encontro dos amigos do samba.
           Numa destas ações de entrega dos produtos, os amigos João do Brasil e Zeca do Surdo  foram convidados para acompanharem o Samuka e seus fiéis (Juju, Nelsinho da cuíca, Fabinho, Ciro Dupan e Eduardo Cabeça, entre outros amigos do samba e da vida). Eles iriam até a Vila Maria da Conceição, entregar à tia Maria, responsável pela Creche Comunitária Contos de Areia o material arrecadado num movimentado finalde semana no Andaraí.
           Após a entrega dos produtos despediram-se da simpática senhora e "desceram o morro" - como contou tio João. No caminho de volta o grupo adentrou o boteco do tio Miguel para tomarem “umazinha” como disse o Zeca. Ao solicitar três cervejas geladas no balcão,  o líder da turma, o Samuka foi abordado pelo seu Luis Carlos – um nego véio de voz grave, porém calma e envolvente,  que, perguntou ao grupo de onde vinham os amigos que, vestiam camisetas personalizadas (do Pagode do Andaraí). Coitado do tio véio, não dominava as letras (não sabia ler, nem escrever). Imaginava ser algo bem bacana pois, o logotipo do movimento chamava bastante a atenção. Conforme nos relatou tio João, o Samuka e os parceiros do Andaraí explicaram a razão da visita e o que estava escrito nas tais camisetas (Pagode do Andaraí/bairro Santo Antonio/Porto Alegre). Enquanto ouvia as explicações, seu Luis Carlos, emocionava-se e, entre um gole e outro, sugeriu uma batucadinha. Ali, na hora, de improviso, para alegrar os "crientes" do tio Miguel.    Uma turma de senhores que jogava baralho e ouvia o jogo do Grêmio no radinho de pilha. Como fazer se não havia instrumentos a mão? Haviam ficado nos carros. Surgiu de forma inesperada um cavaco com apenas 3 cordas, do filho do tio Toninho. Seu Miguel, dono do buteco, pediu ao neto (Dequinho) que, corresse até a casa do Olavo e apanhasse um pandeiro emprestado. Quando chegou um dos “Andaraís man”, sem cerimônia, apanhou o instrumento e já foi lascando ritmo. O Fabinho improvisou um surdo com um balde de limpeza que estava jogado debaixo de uma das prateleiras do lugar. O  Juju apropriou-se de uma garrafa média de Fanta(para fazer o reco-reco) e estava formada a roda, no maior improviso e na maior emoção. O provocativo, seu Luis Carlos com os olhos marejados puxava os cantos e toda a galera cantava junto. Apresentava Ivone Lara, Nelson Sargento, Cartola, João Nogueira e muita coisa legal.
           Com o samba invadindo a noite, no seu improviso e energia, com bastante cerveja gelada, nacos de mortadela e ovo cozido de vidro(que delícia, hein?),  o tio João, o Zeca do Surdo, o Samuka e seus amigos do Andaraí registraram com seus próprios olhos, as cenas mais marcantes de suas vidas sambistas.
            Os mais entusiasmados, entre eles EU e toda a galera do Armazém, garantimos: o Pagode do Andaraí, do Samuka e sua turma está na "Bolsa de valores do samba" com a mesma cotação das rodas de samba carioca. Lá, nos blocos do Jardim América, até o Santo Antonio, coloca o gurizinho no chão para sambar. Aparece lá, todos os sábados, no meio da tarde!!! 



Um comentário:

  1. Olha seu Brasil (com 'ésse'), foi um dos dias mais emocionantes da trajetória dos andaraianos. Num estalar de dedos, surgiram as 'ferramentas' pro paticumbum. Meti uma faca de serrinha e cortei uma palheta duma garrafa de Q-Boa (q linduuuuu!). Cavaco pau-ferro + palheta de alvejante + viela da Ceição + mais amigos de fé + causa nobre + ceva bem gelada em copo de Elegê = NÃO TEM PREÇO. Me senti nas nuvens, aliás, já estava mais perto do céu. Me senti num clipe do Zeca!!!!

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