14 de abr. de 2021

Nery Caveira - o mestre dos mestres por Fernando Batista - Quadro do Armazém do seu Brasil - "Mesa de diretoria"

 

Imagem meramente ilustrativa - surdo de bateria
    
                                                                            

Olá amigos e amigas/

        Aqui é Fernando Baptista e este é o Mesa de Diretoria, uma mesa diversa, sem preconceitos, musical e repleta de histórias aqui no Armazém do Seu Brasil.

            E hoje eu trago para vcs, na estreia deste espaço, um pouco da história de um grande diretor de bateria, mestre de bateria. Mas muito mais do que isto. Um ícone da percussão no nosso Estado, do nosso carnaval, da música regional e até dos festivais nativistas.

            Falo de Nery Soares Gonçalves, o mestre Neri Caveira, nascido e criado no Areal da Baronesa, berço do samba gaúcho em Porto Alegre.

            Afilhado do irmão de Lupicinio Rodrigues, agraciado com o Prêmio Açorianos de Música pelo CD Três Percussionistas em 1997, Neri introduziu breques até então inexistentes nas baterias das escolas de samba do sul do país.

            Estudioso, em paralelo ao seu trabalho a frente da bateria de Imperadores de Samba, onde foi imortalizado, desfilou seu conhecimento, o sorriso aberto, as suas influências musicais e rítmicas pelos palcos dos festivais nativistas quebrando paradigmas e vencendo preconceitos.

            Em um deles, que o recebeu de braços abertos, A Moenda da Canção, de Santo Antônio da Patrulha, Neri tocou por diversas vezes com Loma, uma das divas da canção do Rio Grande do Sul.

            E lá residiu, marcou época e talvez tenha tido a maior homenagem que poderia receber: é nome do troféu dado ao melhor percussionista da Moenda Instrumental, que ocorre junto da Moenda da Canção desde 2011. Fica a dica, depois que tudo isso passar, que os abraços voltarem, vá até Santo Antônio da Patrulha e confira a Moenda. Você não vai se arrepender.

            Voltando a Porto Alegre, após este rápido passeio a Santo Antônio Patrulha, Neri gravou cd´s com Neto Fagundes, Nelson Coelho de Castro e própria Loma. Dividiu o palco com Renato Borghett e colocou a bateria dos Imperadores junto com orquestra da OSPA, unindo o erudito e o popular.

            Lá estavam lado a lado, em igualdade de condições, os músicos da orquestra com seus violinos, flautas, violoncelos e oboés, e os músicos da escola de samba com caixas, tamborins, repiniques, maracanãs, regidos pelo mestre Neri Caveira. Vendo tudo isso, outro mestre percussão gaúcha, o pelotense e fundador da Academia de Samba Praiana, Giba Giba proferiu a célebre frase: isto não é uma bateria e sim uma sinfônica.

            Tempos depois Neri Caveira e sua Sinfônica estavam no palco sagrado do Teatro São Pedro. A cultura popular ocupava um espaço nobre, de pompa, provando sua força e importância.

            Neri nos deixou em janeiro de 2004, aos 67 anos. Mas deixou um legado e a sinfônica sob o comando de dois grandes discípulos seus: Sandro Brinco, que faleceu precocemente, e Sandro Gravador. Aliás, é impressionante a quantidade de talentosos e talentosas percussionistas que nosso Estado produz. Procure mais sobre Davi Batuka, Pedrinho Bozo, Mestre Cy, Ariel Espindola, Biba Meira, Mimo Ferreira, Mestre Guto, Cristiano Tutti Sagui, Luciana Melo, Bruno Coelho, Zé Evandro do Pandeiro, Zé da Terreira, Alexsandra Amaral, Luiz Jaka, veja a trajetória de Marcelo Pimentel, Giovani Berti, Richard Serraria. Projetos como Alabê Ôni, Turucutá e Tamborada. Reverencie os baluartes Giba Giba, Fernando do Ó e Mestre Nilton Pereira (Velha Guarda de Bambas da Orgia).

            Temos que lembrar que os tambores, reprimidos por muito tempo, foram muito mais que música. Foram sinônimo de resistência, rebeldia e um sopro de liberdade e esperança diante da sociedade escravocrata existente. E hoje de certa forma seguem sendo.

            E nada melhor do que encerrar este primeiro Mesa de Diretoria com a homenagem de Nelson Coelho de Castro cantando “Mestre Neri”, de sua autoria, que está no CD “Da Pessoa”.

            Siga o Armazém do Seu Brasil nas redes sociais e até o próximo Mesa de Diretoria.

           Fernando Batista Maguari - jornalista, sambista, carnavalesco, estudioso das coisas do Brasil

Um comentário:

  1. Gratidão por reverenciar nosso querido Griô, o Mestre Neri Caveira. Trabalhamos juntos por 3 anos percorrendo os Festivais Nativistas e meus shows, recebendo prêmios importantes e essa andança trouxe visibilidade ao trabalho do Neri que também foi convidado a tocar além de músicas nos festivais, além dos mencionados com Giba-Giba entre outros e shows em teatros com Geraldo Flack, Renato Borghetti e comigo. Muito, muito obrigada!

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