12 de fev. de 2015

"Xô, intolerância...Axé, minha mãe!!" - Mais da série: Brasil mostra tua cara

        
                                 


                    Outro dia cruzei os olhos numa postagem e fui conferir de perto. "Mães e pais de santo são expulsos de favelas por lideranças evangélicas apoiadas por traficantes". Putz. Já  não bastava terem chutado a imagem da Santa há algum tempo atrás?? Pois, segundo a postagem, uma liderança da religião afro brasileira identificada por sua roupa branca no varal, moradora até 2010, no Morro do Amor, no Complexo do Lins foi convidada a morar num outro lugar. Iniciada no candomblé em 2005, ela logo soube que deveria esconder sua fé: os traficantes da favela, frequentadores de igrejas evangélicas, não toleravam a “macumba”. Segundo a matéria: "terreiros, roupas brancas e adereços que denunciassem a crença já haviam sido proibidos, há pelo menos cinco anos, em todo o morro. Por isso, ela saía da favela rumo a seu terreiro, na Zona Oeste, sempre com roupas comuns. O vestido branco ia na bolsa. Um dia, por descuido, deixou a “roupa de santo” no varal. Na semana seguinte, saía da favela, expulsa pelos bandidos, para não mais voltar". As ameaças eram constantes e segundo a mãe de santo não existem mais terreiros e quem pratica a religião, o faz de modo clandestino. Atualmente, a mãe de santo (prefere preservar seu nome) mora na Zona Oeste do RJ.
                 A situação da mulher não é um ponto fora da curva: já há registros na Associação de Proteção dos Amigos e Adeptos do Culto Afro Brasileiro e Espírita de pelo menos 40 pais e mães de santo expulsos de favelas da Zona Norte pelo tráfico. Em alguns locais, como no Lins e na Serrinha, em Madureira, além do fechamento dos terreiros também foi determinada a proibição do uso de colares afro e roupas brancas. De acordo com quatro pais de santo ouvidos pelo EXTRA, que passaram pela situação, o motivo das expulsões é o mesmo: a conversão dos chefes do tráfico a denominações evangélicas. A intolerância religiosa não é exclusividade de uma facção criminosa. Distante 13km do Lins e ocupada por um grupo rival, o Parque Colúmbia, na Pavuna, convive com a mesma realidade: a expulsão dos terreiros, acompanhados de perto pelo crescimento de igrejas evangélicas. Desinformada sobre as “regras locais”, uma mãe de santo tentou fundar, ali, seu terreiro. Logo, recebeu a visita do presidente da associação de moradores que a alertou: atabaques e despachos eram proibidos ali.
               A situação já é do conhecimento de pelo menos um órgão do governo: o Conselho Estadual de Direitos do Negro (Cedine), empossado pelo próprio governador. O presidente do órgão, Roberto dos Santos, admite que já foram encaminhadas denúncias ao Cedine: - Já temos informações desse tipo. Mas a intolerância armada só pode ser vencida com a chegada do estado a esses locais, com as UPPs. Segundo o citado presidente, as questões não se tratam de disputa religiosa mas, sim, econômica. Líderes evangélicos não querem perder parte de seus rebanhos para outras religiões, e fazem a cabeça dos bandidos — afirma.
                No Morro do Dendê, na Serrinha a situação repete-se. Inscrições pelos muros das Comunidades cariocas trazem inscritos mensagens como “Só Jesus salva”. Tudo bem que só quem usa terno pode ser salvo na ótica de alguns, mas ser devoto a Oxalá não vale?? Cercear a fé é crime, como diz o babalaô Ivanir dos Santos, representante da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), criada justamente após casos de intolerância contra religiões afro-brasileiras em 2006.  
               Em 2013 foi lançado o livro Mulheres de Axé que reuniu perfis de mais de 200 ialorixás (mãe-de-santo) de Salvador, região metropolitana e Recôncavo transformado mais tarde em documentário.

mulheresdeaxé

               Embora desde 1939 tenha sido garantida a liberdade de culto no País, não é mais a polícia quem pretende destruir os terreiros de candomblé e umbanda – mesmo com o decreto de Getúlio Vargas, até 1976 havia uma lei na Bahia que obrigava os terreiros de candomblé a se registrarem na delegacia. Atualmente, quem persegue os seguidores das religiões afro-brasileiras é gente dita “cristã”: fundamentalistas evangélicos que disseminam o preconceito e o ódio aos fiéis do candomblé e também da umbanda. Com  o aumento crescente das bancadas evangélicas nas Câmaras Municipais, Legislativos estaduais e no Congresso é preciso ficar alerta. Que bom seria se todos pensassem, como a Mãe Jaciara de Oxum, herdeira de Mãe Gilda: “Não existe uma religião melhor do que a outra. Seja Deus, Olorum, Javé ou Buda”.
             Recomendo aos amigos o documentário de Marcos Rezende para podermos ampliar o fórum de discussões e combate a toda e qualquer tipo de intolerância.


Fonte:
http://extra.globo.com/casos-de-policia/crime-preconceito-maes-filhos-de-santo-sao-expulsos-de-favelas-por-traficantes-evangelicos-9868829.html#ixzz3QhXcj2oJ

 http://socialistamorena.cartacapital.com.br/mulheres-do-candomble-contra-a-intolerancia/

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